Impacto da pandemia na educação

Claudino Piletti

A pandemia, além de causar o colapso de sistemas de saúde, provocou uma crise sem precedentes na educação em todo o mundo. Ela trouxe, em sua esteira, de um dia para o outro, suspensão das aulas e o fechamento de escolas. Além disso, recolocou a questão do papel da escola e do professor. Sem contar que evidenciou a dificuldade de muitos pais para ajudar os filhos em suas necessidades educacionais.
Com o objetivo de conter o avanço do vírus, a suspensão das aulas foi uma medida tomada rapidamente, pois, é na escola que acontece um grande número de interações sociais. Assim, mais de 1,5 bilhão de alunos e 60,3 milhões de professores de 165 países foram afetados pelo fechamento das escolas.
É nesse contexto que surgem o uso de aulas remotas e de plataformas digitais, com o objetivo de substituir as aulas e o contato presencial e socializador. Seria, certamente, um tanto desanimador pensar que essas formas de ensino-aprendizagem seriam tão duradouras. É que, as tecnologias, por mais eficazes que sejam, nunca substituirão a dimensão presencial. Mas, enquanto esta não retorna, professores tiveram que reaprender a ensinar e, alunos, a aprender. Nisso, alguns países foram mais rápidos que outros.
Na China, por exemplo, cerca de 240 milhões de crianças e jovens se adaptaram rapidamente ao fechamento de escolas e passaram a ter aulas remotas em uma escala jamais vista. Assim os chineses mostraram que é possível fechar as salas de aula sem acabar com o aprender.
No Brasil, nem todos os municípios possuem estrutura de tecnologia para oferecer ensino remoto. E, além disso, nem todos os professores tem formação adequada para dar aulas virtuais. Sem contar que os softwares utilizados para esse fim são desenvolvidos para funcionar em computadores, ambiente acessado, atualmente, por apenas 57% da população brasileira.
O problema é que fomos pegos de surpresa e, assim, tivemos que nos adequar. Se, por um lado, nos libertamos das paredes das salas de aula e descobrirmos um mundo de possibilidades, por outro, perdemos um espaço de contato humano. O isolamento, por sua vez, está criando hábitos e comportamentos nas famílias e instituições de ensino que as forçam a rever uma série de processos e métodos de ensino. Atividades remotas, novas formas de organização do ensino, apoio da família e da comunidade no processo educacional, são algumas das exigências no campo da educação imposta pela pandemia.
Um aspecto da nossa realidade educacional e social que ficou mais evidente com a pandemia refere-se à grande desigualdade entre o sistema público e o privado da educação básica e à distância social entre as famílias dos estudantes. Enquanto alunos de escolas privadas aprendem por meio de diversos recursos e estratégias de ensino (vídeo ao vivo gravado, envio de tarefas, sessões em grupos menores para tirar dúvidas etc.), muitos estudantes das escolas públicas nem têm acesso à internet.
Tanto para alunos das escolas privadas quanto das públicas, segundo os especialistas, a redução do contato com a escola a uma tela de computador pode trazer dificuldades na hora da readaptação. As crianças enfrentarão o desafio de recuperar o hábito do estudo, já que passaram muito tempo com a rotina virada do avesso, avalia o matemático Salman Kahan, um dos mais famosos do mundo e cujas aulas virtuais são seguidas por milhões de estudantes ao redor do globo. Por isso, a volta deverá ser feita em etapas, procurando verificar quanto o aluno aprendeu de verdade e receber um atendimento mais personalizado.

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Postado em 18, dezembro, 2020