Você colocaria cabras para cuidar da sua horta?

Claudino Piletti

Numa ensolarada manhã de sábado, após cansativa viagem, cheguei ao meu aprazível sítio, na bela zona rural de Ibiúna, para um final de semana longe da estressante metrópole. Mas, logo ao chegar, uma desagradável surpresa: todas as cabras soltas e felizes se refestelando na horta.
Irado, procurei o caseiro, “o nhô Lourenço”, como o tratavam na localidade. Era um senhor já de certa idade, vindo do sertão e que, praticamente, só sabia puxar cabo de enxada. Minto, pois, apesar de analfabeto e de confundir “genêro humano” com “ Germano”, “verde mar” com “Valdemar” e “Cabral” com “rebanho de cabras”, sabia contar belas “estórias dos tempos de dantes”, como costumava referir-se aos causos que narrava. Além disso, por sua honestidade e sabedoria, aprendidas na escola da vida, era muito respeitado na comunidade.
Mas, e as cabras na horta? Fui até ele e, sem cumprimenta-lo, em tom alterado, perguntei-lhe: Por que as cabras estão na horta? Ele, após cumprimentar-me com um “Bom dia”, calmamente explicou: “É que elas não pensam…Vou já prende-las”.
Assim como cabras, parece que muitos políticos não pensam, pois, eleitos para cuidar do país, acabaram com ele. Mas, não é que não pensam. O problema é que só pensam em encontrar maneiras para conseguir vida fácil para si e sua família. Não é a toa que Wladimir, ex- jogador do Corinthians, em certa ocasião, afirmou: “ Ser político no Brasil é a maneira mais fácil de viver”.
Por isso, não basta pensar. Político, e qualquer ser humano, além de pensar precisa prestar. A propósito lembro que, num dia de eleição, após ter votado, fui até o sítio. Lá estava nhõ Lourenço puxando cabo de enxada. Perguntei-lhe: “O senhor já foi votar?”, ao que ele respondeu: “Não… Mas, meus filhos foram votar.” (Por ser analfabeto, lembrei em seguida, ele não podia votar. Hoje, poderia). Para continuar a conversa, indaguei: “Em quem seus filhos disseram que votariam?” “Óia! Disseram que iriam votar numa tal de Helena. Eu nem sei se ela presta ou não”. (Na realidade, íam votar no partido “ARENA”, que ele confundia com “Helena”)
Antes de serem eleitos, todos políticos prestam. O problema é depois de eleitos. Por isso nas próximas eleições para não ser enganado, eis algumas regras: A primeira é não reeleger ninguém pois, segundo o ex-presidente do Uruguai Júlio Sanguinetti, “todo político em busca de reeleição é um animal perigoso”. Política não é profissão. Faça um político trabalhar: não o reeleja. Além disso, a melhor contribuição que certos políticos podem dar ao país é perder as eleições. A segunda é a de, em hipótese alguma, vender o voto. Aquele que o vende presta menos do que aquele que o compra. E, a terceira, é a de informar-se o sobre a honestidade do candidato no qual pretende votar. Em caso de dúvida, é preferível nem votar.
Acredito que, seguindo estas três regras, você correrá menos risco de colocar cabras para cuidar da sua horta. Se nosso país está em tão lamentável situação, é porque colocamos um “cabral”, isto é, uma criação de cabras para cuidar da nossa horta. A culpa pela situação não é só de um “cabra da peste”, mas da peste de cabras que teimam em eleger cabras para tomar conta da horta.

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Postado em 27, setembro, 2018