Brasileiros metidos a bestas

Claudino Piletti

O gaúcho João Saldanha (1917-1990), um cronista esportivo que foi técnico da seleção Brasileira, em certa ocasião, afirmou: “O Brasil é o país pobre mais metido a besta que conheço”. Na realidade, porém, brasileiros é que são metidos a besta. Não são muitos, mas o número suficiente para deixar a imagem do Brasil um tanto negativa lá fora.
“Metido a besta” é o cara malandro, tolo, estúpido, ignorante, ingênuo, autocentrado, fútil, sem empatia, boçal e com quase nenhum senso ético. Na Copa do Mundo, na Rússia, tivemos diversas demonstrações de patrícios metidos a besta. A começar pelo nosso craque Neymar que, no jogo contra a Costa Rica, simulou pênalti e, ao ser chamado atenção pelo árbitro, riu de forma irônica. E, diante de câmeras de vídeo, passou a induzir árbitros ao erro e a ofendê-los com palavrões. Reproduziu, assim, o estereótipo do brasileiro metido a besta.
Mas, o caso que mais chamou a atenção foi o da garota russa assediada por um bando de torcedores brasileiros metidos a besta. Chamou atenção porque foi gravado e ganhou a audiência global. Assim, além de bestas, eles foram burros, pois, ao gravarem a cena só para aparecer, se expuseram a sansões sociais e, até mesmo, penais.
Outro caso que chamou atenção foi o do torcedor com a camisa da seleção mandando um menino russo, aparentemente de menor, repetir que ele é “filho da puta, viado e que dá para o Neymar”. Por se tratar de menor, isso é crime tanto na Rússia como no Brasil.
Há outros casos com torcedores brasileiros. Nenhum deles, no entanto, reconheceu seu erro. Ao contrário, um engenheiro civil que apareceu num dos vídeos, por exemplo, reclamou com os jornalistas: “Somos pais de família e vocês estão acabando com a vida da gente”. (Folha de S. Paulo, 24/06/18). É estranho que esse engenheiro, que valoriza tanto a sua família, não tenha pensado como ele se sentiria se, no vídeo, ao invés da menina russa, estivesse a foto de sua mãe, filha, esposa ou irmã.
O problema é que pessoas metidas a besta não pensam. E, o pior, não têm empatia, ou seja, são incapazes de sentir o que os outros sentem, pois, são egocêntricas, narcisistas, imaturas e, geralmente, mimadas.
Um caso que ficou famoso de brasileiros metidos a besta é conhecido com o nome “farra dos guardanapos”. Trata-se de uma festa de arromba, comemorando antecipadamente a vitória da Rio-2016, num dos mais caros restaurantes de Paris. Numa foto dessa “farra”, paga com o dinheiro do contribuinte, aparecem o então governador do Rio, Sergio Cabral, e seus amigos, com guardanapos amarrados na cabeça. Hoje, Cabral está preso e, seus amigos, são acusados de envolvimento em esquemas de corrupção.
Nada impede, porém, que pessoas metidas a besta sejam profissionais competentes. Tanto que, no tempo em que era técnico da nossa seleção, o próprio João Saldanha convocou certo jogador considerado um sujeito metido a besta. Questionado sobre a escolha, ele explicou: “Não quero ele para casar com a minha filha”. E, certamente, o que tem de gênio metido a besta na história da humanidade daria para encher vários estádios de futebol.

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Postado em 10, julho, 2018