SENSIBILIDADE PERDIDA

Há muitos autores que falam sobre os grandes males da sociedade atual. Richard Sennett, por exemplo, em sua obra “A corrosão do caráter” explica o quanto a flexibilidade e as mudanças constantes no mundo do trabalho afetam as relações de confiança entre as pessoas. Afinal, este tipo de relação precisa de tempo para que seja consolidada além de certa linearidade e constância. Estas características não condizem com a velocidade das transformações e com a ditadura do tempo em que vivemos. Cada vez mais nos afastamos de nossos semelhantes e, de certa forma, perdemos o que há de mais precioso na vida: a sensibilidade.

“Sentir é estar distraído” dizia Fernando Pessoa que também afirmava que “o mundo é de quem não sente”. Para o poeta “a condição essencial para ser um homem prático é a ausência de sensibilidade”. Cada vez mais, somos pessoas práticas, sem tempo para sermos distraído e com todas as condições para nos tornarmos insensíveis. É triste, por exemplo, como tragédias, cenas de dor ou desgraças alheias, nos chocam e ao mesmo tempo nos atraem. O espetáculo humano tornou-se um atrativo que gera grande audiência, mobiliza a opinião pública mas não evita novos dramas. Ao contrário, cada vez mais, temos notícias de crimes hediondos que demonstram o quanto a maldade escancarada é marca de nosso tempo.

O psiquiatra forense Michael Stone, criou uma escala denominada “índice da maldade” no qual analisa e classifica o comportamento de assassinos famosos. Este índice nos interessa porque demonstra que a maldade está relacionada com o grau da perversidade humana, ou seja, com a insensibilidade.  Não podemos simplificar as análises sobre a perversidade, mas tememos a vulgarização da maldade entre as pessoas já que “o pior mal é aquele ao qual nos acostumamos” como alertou Sartre.

Enfim, não existe fórmula pronta para resolver os problemas da violência e nem para tornar as relações mais confiáveis e as pessoas mais sensíveis. Este é um exercício individual e coletivo que precisa ser reforçado por meio de políticas e condições econômicas que trabalhem pela unidade e não pela separação social. Martin Luther King há muito tempo insistia o que ainda é muito válido: “Hoje a escolha não é mais entre violência e não-violência. É entre não-violência e não-existência”.

Ana Cristina Piletti

 

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Postado em 4, setembro, 2013