Você se importa?


Ana Cristina Piletti

“Eu realmente não me importo, você se importa?”. Por que a frase estampada no casaco utilizado pela primeira dama dos Estados Unidos, a caminho de visita a um abrigo de crianças imigrantes no Texas, gerou tanta polêmica? E, para você, uma pessoa desconhecida que chega de outro país tem alguma importância?
Associada à política de tolerância zero com a imigração ilegal, adotada pela administração do governo de seu marido, a falta de sensibilidade e de bom senso de Melania Trump na escolha do vestuário contribuiu para a repercussão negativa do fato na imprensa internacional. Em meio à crise migratória que atinge países do mundo inteiro, a posição refratária dos Estados Unidos às famílias que tentam atravessar as fronteiras do país tem causado revolta. O descaso ou a infeliz escolha da jaqueta pela primeira dama na situação demonstrou que, ou “realmente ela não se importa”, ou “realmente quis gerar polêmica”.
Em seis semanas, desde o endurecimento da política de Trump que estabeleceu a criminalização da imigração ilegal, quase 2 mil crianças foram separadas de seus pais e encaminhadas para abrigos sob custódia do governo (G1, 20/06/2018). Além de rechaçada pela Organização dos Estados Americanos, que solicitou a reunificação urgente das famílias, as ações do governo norte-americano têm provocado centenas de manifestações contra a política de imigração do atual presidente.
Considerada por muitos estudiosos como uma nação de imigrantes, os Estados Unidos vivenciam um período de fechamento e intolerância aos povos de nações estrangeiras, especialmente dos países mais pobres. Conhecido pela sua agressiva política econômica, o governo de Trump parece desconsiderar o papel dos imigrantes e de seus descendentes, do qual ele e sua esposa fazem parte, para o desenvolvimento da nação norte-americana. Segundo levantamento realizado pelo Center for American Entrepreneurship, o país perderia quase metade de suas 500 maiores empresas sem os imigrantes, pois, 216 das 500 maiores companhias listadas no ranking da revista de negócios Fortune de 2017, foram fundadas por imigrantes ou seus descendentes (BBC, 18/12/2017).
Na contramão da Copa do Mundo, evento esportivo que simboliza a integração de nações, acompanhamos a segregação de famílias e a intolerância às diferenças entre países vizinhos. A crise migratória, no entanto, não se limita aos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, mais de 40 mil venezuelanos atravessaram a fronteira desde que problemas políticos e econômicos atingiram o país de origem (G1, 05/08/2018). A diferença, porém, está na forma como os países e seus cidadãos recebem e lidam com a questão do estrangeiro. Neste sentido, a época é propícia para refletirmos sobre a solidariedade entre os povos e, também, com o que realmente nos importamos.

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Postado em 6, julho, 2018