Terão futuro as futuras gerações
Claudino Piletti
“Uma geração passa, outra lhe sucede, enquanto a terra permanece para sempre” (Ecl, 1,4), diz a Bíblia. Se, por um lado, ninguém duvida que uma geração passa, outra lhe sucede, por outro, há a cada dia mais pessoas que duvidam que a terra permaneça para sempre. Mais e mais pessoas, atualmente, estão tomando consciência, com a ajuda da ecologia científica, dos riscos inerentes ao atual modo de exploração de nosso planeta. “Nós temos só uma Terra!” foi um dos primeiros slogans do movimento ecológico, no início dos anos 1970. É o reconhecimento de que, apesar dos imensos progressos técnicos que possibilitaram a uma parte da população mundial desfrutar dos recursos do nosso planeta, nós permanecemos tributários de seu bom funcionamento.
Porém, diariamente surgem nos meios de comunicação notícias de ameaças a esse bom funcionamento: toneladas e toneladas de plástico jogadas nas águas, emissão na atmosfera de vários gazes com efeito estufa, degradação dos solos e dos lençóis freáticos, desflorestamentos intensivos, catástrofes nucleares, etc. A conjunção dessas ameaças ao bom funcionamento do nosso planeta, constitui séria ameaça à humanidade.
Notícias de tais ameaças, no entanto, tornaram-se tão comuns que, a maioria das pessoas, quase não lhes dá importância. Além disso, em nosso país, muitos estão preocupados com problemas mais imediatos do que salvar o planeta: conseguir um emprego, um lugar para morar, pagar as contas no fim do mês, ter o que comer, ter atendimento hospitalar, poder comprar os remédios, ter transporte digno, etc.
Mas, num país daqui distante – onde quase não há pessoas com problemas de sobrevivência e, os seus políticos, não são corruptos como os nossos –, uma adolescente de 16 anos, com síndrome de Asperger, deu início a um movimento internacional de greves de estudantes contra as mudanças climáticas. Estou falando da Suécia e de Greta Thunberg, que explicou: “Percebi que ninguém estava fazendo nada…Então eu precisava fazer alguma coisa. Como não posso votar, essa é uma das maneiras que eu posso fazer minha voz ser ouvida”. Foi com esse pensamento que, desde agosto do ano passado, falta às aulas todas as sextas-feiras, e se senta em frente ao Parlamento Sueco, em Estocolmo, para exigir medidas concretas dos políticos contra o aquecimento global. Este ato, inicialmente solitário, inspirou jovens de todo o mundo a aderirem ao movimento que ficou conhecido como “Friday For Future” (Sextas-feiras pelo futuro), que culminou numa greve escolar global no dia 15 de março, quando milhares de estudantes foram às ruas protestar, inclusive no Brasil.
O movimento rendeu a Greta importantes convites: encontrou-se com o papa Francisco, discursou no Parlamento Europeu, participou da Conferência do Clima da ONU e, é indicada ao prêmio Nobel da Paz.
Mesmo que o planeta não acabe, fica a dúvida se terão futuro as futuras gerações. Com o atual nível de desemprego entre os jovens – que não ocorre só no Brasil, mas em todo o mundo –, e com a cada vez maior concentração da riqueza nas mãos de alguns poucos, não são muito boas as previsões sobre o futuro das futuras gerações.
Aliás, segundo alguns, nem a atual geração está tendo futuro. O desenhista, cronista e humorista belga Philippe Geluck, nascido em 1954, por exemplo, em 1999 afirmou: “No passado havia mais futuro que agora”. E, para o escritor alemão Herman Josef Abs, “nem o futuro é mais aquele de uma vez”.