O Político e a pandemia
Por Claudino Piletti
O presidente da Câmara de Vereadores de Canela, no Rio Grande do Sul, Alberi Dias (MDB), tem uma solução pouco ortodoxa contra a pandemia: pulverizar álcool etílico e desinfetante através de drones em toda a cidade: “Sei lá, não sei se existe álcool em gel líquido, ou outra coisa. Sei lá, pulverizar lavouras de avião, não sei se há tecnologia para isso”.
Sei lá, mas desconfio que, na pandemia, político mais atrapalha que ajuda. Sei lá, mas acho que a seguinte história ajuda a entender porque isso ocorre: Em 1902, o Rio de Janeiro era uma cidade suja e insalubre, infestada pela febre amarela, varíola, peste bubônica, tuberculose, malária, cólera e todas as pragas que surgem por falta de saneamento. O então presidente do país preocupado com a situação, decidiu convocar um brasileiro recém chegado da Europa, onde tinha completado seus estudos no Instituto Pasteur, em Paris. Era o jovem sanitarista Osvaldo Cruz, que prometeu resolver a situação no máximo em três anos. Mas, fez uma exigência:
– Preciso contar com inteira autonomia de ação, ficando livre de intervenções políticas, até mesmo na escolha dos meus auxiliares.
Então, como Diretor da Saúde Pública e contando com poucos recursos ele escolheu sua equipe e montou um laboratório bastante rudimentar na Fazenda de Manguinhos para realizar as pesquisas. Mas logo foi informado de que o presidente tinha nomeado um médico para o Serviço de Saúde, sem consulta-lo. Osvaldo Cruz, ao saber que a nomeação era de caráter político, foi ao presidente e disse-lhe:
– Compreendo suas razões, mas não concordo com elas. Não devemos misturar saúde pública com política. Deste jeito nunca vamos sanear a cidade. Meu cargo é seu. Convoque outro…
O presidente pegou o ofício com a nomeação do médico, rasgou-o e sorriu para Osvaldo Cruz:
– Acredito no senhor. E daqui para frente será como o senhor quiser.
Entre lutas, incompreensões e polêmicas, Osvaldo Cruz, que não era um político, mas médico e cientista, ao cabo dos três anos previstos, deixou o Rio de janeiro livre das pragas.
Sei lá… Mas acho que há um tipo de praga que ele não eliminou. Tão fácil é adivinhar de que praga se trata, que não tem prêmio para quem acertar.