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O erro de Moro

Claudino Piletti

O juiz Sérgio Moro, ao ser entrevistado no Programa Roda Viva da TV Cultura, no dia 26 de março, deu bela aula de Direito. Mas, cometeu um erro… de latim.
Ele, perguntado como encarava o fato de ser uma das pessoas mais célebres do país, respondeu: “Com humildade, muita humildade.” E citou a famosa frase latina de Thomas Kempis (1379-1471): “Sic transit gloria mundi”. (“Assim passa a gloria do mundo”).
Essa frase é repetida três vezes na cerimônia de posse dos papas para lembrar-lhes da vangloria das pompas do mundo. É repetida, também, a propósito de uma celebridade que caiu no esquecimento.
Vamos ao erro do juiz. Ele, ao citar a frase latina, ao invés de dizer “mundi” (genitivo, em latim, que significa do mundo), por um lapso de memória, disse “mundus” (nominativo latino que significa simplesmente mundo).
É claro que esse pequeno deslize gramatical, que quase ninguém percebeu, não comprometeu a mensagem da frase latina. Mensagem, aliás, que deveria estar mais presente na vida de certas celebridades que são exemplos de falta de humildade.
Para o escritor espanhol Cervantes (1547-1616), autor de Dom Quixote, “a humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja.”
O orgulho, oposto da humildade, deve ser combatido por todos. Não é à toa que o triunfador romano, ao desfilar após uma vitória, para que evitasse cair no orgulho, era constantemente advertido por um escravo colocado atrás dele, com essa palavras: “Cave ne cadas” (Cuidado para não caíres).
Aqui, nossos políticos, humildes nas eleições e orgulhosos após eleitos, deveriam, à semelhança do triunfador romano, ter um assessor que os advertisse constantemente. Não com frases latinas – pois, a maioria deles não sabe latim e, muitos, nem português – mas com frases do nosso cotidiano. Eis algumas frases que poderiam ser sopradas aos ouvidos de nossos políticos por um diligente assessor: “Devagar com o andor que o santo é de barro”; “anda na linha senão a justiça te pega”; “a lei é igual para todos”; “aqui se faz aqui se paga”; “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”; “lembra-te que és pó e, ao pó, hás de retornar.”
Então, algum político, talvez, dirá ao assessor:
– Por falar em pó, lembra-te de conseguir aquele que lhe encomendei.
– Lembrarei, excelência…

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