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Longevidade: desafios do envelhecimento no Brasil

Ana Cristina Piletti

Os resultados do Censo Demográfico de 2022 (IBGE, 27/10/2023) revelam uma tendência de envelhecimento da população brasileira. O número de pessoas com 60 anos ou mais aumentou em 56% desde 2010. Além disso, a população com 65 anos ou mais alcançou cerca de 22,2 milhões pessoas, representando 10,9% da população total, a maior desde 1980, quando essa parcela era de apenas 4%. Os dados evidenciam ainda o aumento na idade mediana do brasileiro, bem como um acentuado crescimento no índice de envelhecimento da população. O que isso significa? Quais são os desafios do envelhecimento populacional no Brasil?
Envelhecer ainda é um tabu para muitas pessoas, em especial, em uma sociedade predominantemente jovem. Aos desafios previdenciários, de saúde e de bem-estar, somam-se as barreiras culturais e sociais que dificultam ou até mesmo impedem ao idoso desfrutar a velhice com qualidade. Para a antropóloga Miriam Goldenberg, “a sociedade diz que envelhecer é feio, que quando você envelhece não pode mais trabalhar, estudar, namorar, fazer escolhas, você não pode mais existir. É uma espécie de morte simbólica. O envelhecimento no Brasil é uma morte simbólica e nós envelhecemos muito cedo”.
Essa morte simbólica representa a invisibilidade do idoso no mercado de trabalho, nos espaços sociais, no planejamento arquitetônico das residências e das cidades, na participação das decisões familiares e, sobretudo, na autoimagem da própria pessoa que está envelhecendo. Nesse sentido, além dos cuidados com a saúde física, é fundamental a atenção à saúde mental, porque é mais comum ao idoso renunciar à sua autonomia do que superar arraigados padrões sociais esperados no seu comportamento.
Um exemplo desse tipo de enfrentamento moral e social é um movimento de avós espanholas que se recusam a cuidar dos netos o tempo todo, estabelecendo limites familiares e ocupando o tempo com seu próprio cuidado. Manuel Sánchez Pérez, presidente da Sociedade Espanhola de Psicogeriatria, explica “as pessoas que optam por esse tipo de posição estão defendendo o seu direito a uma velhice digna e saudável, e a poder usufruir do tempo extra que o não ter de trabalhar lhes proporciona, e isso é perfeitamente legítimo”. (BBC News Brasil, 24/10/2023).
Saber envelhecer bem, portanto, é algo que talvez precisemos aprender com sociedades mais idosas que valorizam a jovialidade da terceira idade. Afinal, na melhor das hipóteses, todos nós seremos idosos. Esperamos não mais fazer somente o que precisamos, e sim o que queremos.

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