Brasil Dividido: quem vai ganhar desta vez?
Ana Cristina Piletti
Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais apenas comprovaram que o país está segmentado. Brasil dividido: esta foi a manchete sobre o país nos principais jornais do mundo. A polarização entre o eleitorado de Lula e Bolsonaro tem sido representada como a disputa entre direita e esquerda. Essa divisão faz sentido?
Para a maior parte dos especialistas em ciências políticas, na prática, não há como fazer tal distinção de maneira tão cartesiana e exata.
De forma geral, a direita é representa por posicionamentos ligados ao liberalismo econômico, propriedade privada, individualismo, meritocracia e conservadorismo sociocultural. Geralmente, apresentam-se como favoráveis a privatização da educação, da saúde e de empresas estatais; são defensores da família tradicional e contrários a uma proteção superior aos direitos dos trabalhadores e da classe menos favorecida.
No outro extremo, a esquerda é representada por ideais mais sociais, coletivos e igualitários. Apresentam-se favoráveis a diversidade cultural e a um Estado do bem-estar social com maior intervenção na economia e garantias aos trabalhadores e as pessoas menos privilegiadas, visando a justiça social.
Contudo, basta observarmos as ações de governos ditos de “esquerda” ou de “direita” para constatarmos que alianças entre quem está ou estará no poder são realizadas e que os governantes assu-mem posições clara-mente contradi-tórias àquelas que defenderam durante a campanha.
Quando neces-sário, para atrair os votos dos eleitores mais pobres, Bolsonaro prometeu o aumento do valor mensal do auxílio Brasil, contrariando a agenda liberal. Da mesma maneira, Lula vem reavaliando sua proposta de excluir totalmente o “teto de gastos” visando atrair os votos de empresários ligados ao centro.
Em política, continua válida a famosa tática cesariana do “dividir para conquistar”. Enquanto nós brigamos nos intitulando de fascistas e comunistas, mortadelas e bolmonions entre outros adjetivos que representam uma briga inútil porque temos muitos interesses comuns, àqueles que estão ou estarão no poder já estão negociando formas de resolver seus problemas pessoais. Evidente, uns mais que os outros.
Divididos, certamente, todos perdemos. O que resta é, para aqueles que não se identificam com nenhuma dessas posições políticas, avaliar o que é menos pior. Nesse sentido, não seria melhor um governo mais receptivo às críticas e ao diálogo? Não parece razoável um governo que garanta e permita que os meios de controle e justiça atuem mesmo que seja para punir e cassar os direitos dos próprios governantes? Não seria isso o mínimo para seguirmos com uma democracia?