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Amazônia: terra de quem?

Por Ana Piletti

O recente caso do assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips na Amazônia repercutiu negativamente na opinião pública mundial e, novamente, levantou questionamentos sobre o drástico abandono da região.
Reconhecida pela sua importância para a sustentabilidade ecológica do planeta, a Amazônia abriga grande parte dos povos indígenas que garantem a sobrevivência e o equilíbrio desse ecossistema.
No entanto, a riqueza natural também atrai a atenção de agropecuaristas, madeireiras, mineradoras e de agentes que desenvolvem atividades ilegais em terras de preservação ambiental.
Em 2020, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez, afirmou: “Para nós, o desmatamento é um sinônimo de progresso, por mais que isso possa chocar as pessoas”. Essa é a mentalidade da atual base governista. Entre 2019 e 2021, o número de casos de mortes violentas nesta região da Amazônia subiu de 14 para 85 para cada 100.000 habitantes. Em 2021, o Brasil foi o quarto país que mais matou ativistas ambientais. A área de garimpo na região aumentou de 35 mil hectares para 107 mil hectares em 20 anos. Em 2021, o desmatamento aumentou em 73% em relação ao ano de 2018. Por outro lado, o número de servidores efetivos da Funai foi reduzido de 1906 para 1480 nos últimos quatro anos (Veja, 17/06/2022). No mais, o próprio Bruno Pereira havia denunciado um dos suspeitos pela sua morte por invasão de terra indígena e pesca ilegal em abril deste ano (G1, 11/06/2022). Porém, nada foi feito.
Ao se pronunciar sobre o desaparecimento das vítimas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou: “Os dois resolveram entrar em uma área completamente inóspita, sozinhos, sem segurança, e aconteceu o problema…[…] Lá tem pirata no rio. Lá tem tudo o que se possa imaginar. É muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado, fisicamente, e com armamento.” (CNN Brasil, 15/06/2022)
Além de indiferença pelas vidas perdidas, o discurso do maior representante da Nação claramente evidenciou que a segurança e a atenção à região não é uma prioridade do governo. Pelo contrário, a região está à mercê do crime organizado e dos mais aptos e armados a ocupar as terras que o Estado finge ser de ninguém.

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