Os autores dos atos golpistas e Anderson Torres
Por Carolina Saito
Para as pessoas bem-informadas é tão obvio a relação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com os atos antidemocráticos em Brasília, no começo do ano, por conta de suas declarações contra a confiabilidade das urnas eletrônicas e não aceitação do resultado oficial do pleito. A demora nas investigações gera um sentimento de impunidade enquanto outros crimes vêm à tona, somando e desviando o foco das notícias, como aconteceu com a divulgação de um kit de joias femininas de diamantes, presenteado pelo governo da Arábia Saudita, retido na Receita Federal e outros dois kits de joias colocados por Bolsonaro no seu acervo pessoal.
Como ninguém deve ser condenado sem provas, como fizeram com o presidente Lula (PT), as investigações seguem para a responsabilização dos autores dos atos antidemocráticos. A partir da apreensão de uma minuta golpista na casa do ex-Ministro da Justiça Anderson Torres, durante a operação da Polícia Federal, as investigações caminham em direção ao autor intelectual.
Com base em um Boletim de Inteligência detalhando os locais de maior votação de Lula no 1º turno das eleições do ano passado, Anderson Torres mobilizou a Polícia Rodoviária Federal para fazer blitz nas estradas do interior do nordeste com o intuito de impedir a chegada dos eleitores de Lula aos locais de votação. Empossado Secretário da Segurança Pública do Distrito Federal pelo governador reeleito Ibaneis Rocha (MDB), Anderson Torres mudou o plano de segurança da Praça dos Três Poderes e partiu de férias para os Estado Unidos poucos dias antes dos atos terroristas de 8 de janeiro. Temendo pela sua vida, por tudo o que sabe, Torres preferiu voltar ao Brasil. Preso e depressivo, já dispensou os advogados da família Bolsonaro. Há rumores que ele vai delatar, o que vem tirando o sono do ex-presidente.
Diante das condutas impróprias e crimes de Bolsonaro e dos integrantes de seu governo, é muito importante que as investigações continuem e que cheguem aos mentores intelectuais dos atos golpistas. A impunidade dos torturadores na Ditadura Militar acabou deixando espaço para o fortalecimento da extrema-direita e o surgimento de um líder que idolatra um torturador e assassino. É preciso que viremos esta página da nossa história sem dívidas para o futuro, caso contrário cometeremos os mesmos erros de hoje.