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Bolsonaro: um mito?

Ana Cristina Piletti

Aclamado pelos seus eleitores como um mito, Jair Messias Bolsonaro venceu a corrida presidencial, apesar de ter sido subestimado por muitos adversários. A vitória eleitoral era tida como certa por muitos de seus seguidores que, inclusive, cogitavam o resultado favorável já no primeiro turno. O fato do candidato, pouco conhecido para a maior parte da população, alcançar o cargo mais alto do país, pode ser considerada a façanha de um verdadeiro mito?
De uma forma simples, podemos distinguir dois sentidos usuais para o termo mito. Positivamente, como a construção de uma história em torno de um herói, ou seja, alguém que independente das adversidades conseguirá mudar o seu mundo. É provável que esta seja a percepção dos apoiadores do futuro presidente, para os quais o discurso politicamente incorreto ilustra a sinceridade e honestidade de alguém sem amarras ideológicas. Para seus aliados, quem critica Bolsonaro seriam justamente aqueles que desfrutam de vantagens indevidas, artistas que recebem subsídios do governo, professores “de esquerda” que utilizam a sala de aula para doutrinar os alunos e ainda criminosos que temem ações mais severas da polícia. Acreditam que o capitão teria condições para lutar contra a corrupção, combater privilégios e mordomias e, com isso, fazer o país crescer economicamente.
Negativamente, um mito pode ser interpretado como uma explicação falsa e fantasiosa da realidade criada para iludir as pessoas. É provável que esta seja a percepção dos contrários ao futuro presidente, para os quais ele representa um grande risco à democracia. Para estes, as contradições no seu discurso revelam sua verdadeira face: contou com a confiança dos trabalhadores, mas anunciou a extinção do Ministério do Trabalho; defendeu a liberdade de expressão e a democracia, porém menospreza grandes veículos de comunicação; afirmou que pretende mudar o país, contudo em quase trinta anos no Congresso Nacional só teve habilidade política para aprovar dois projetos.
De qualquer forma, aqueles que concordam com as regras do jogo democrático devem aceitar os resultados das urnas. Desde o dia 28 de outubro, as discussões polarizadas perderam o sentido, pois independente de que lado se esteja, teremos o mesmo presidente em 2019. Tal como afirmou o cientista político Steven Levitsky “a polarização nubla nossas percepções”. Assim, cabe aos seus aliados o senso crítico para analisar como o mito pode efetivamente transformar o país, e aos seus opositores o bom senso para colaborar com as ações que tragam melhorias ao Brasil.

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