Vou-me embora para o país da Jacinda
Por Claudino Piletti
Cansado e desiludido com a malfadada atuação dos nossos políticos no combate à pandemia, já sinto vontade de mudar para o país da Jacinda. Outrora, apesar de viver em tempo sem pandemia, nosso poeta Manuel Bandeira, anunciou: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei/ Vou-me embora pra Pasárgada/ Aqui eu não sou feliz”.
Mas, como eu sei que essa tal de Pasárgada não existe, vou-me embora para o país da Jacinda. Lá não serei amigo do rei, pois, não há rei. E nem terei a mulher que quero na cama que conseguirei ter. Só espero que, nessa cama, eu possa dormir sem medo da pandemia.
Minha Pasárgada é a Nova Zelândia, governada pela primeira ministra Jacinda Ardern que, no início da pandemia, impôs rígida quarentena, cujos bons resultados fizeram sua popularidade subir. O combate à Covid 19 confinou os neozelandeses em casa durante quatro semanas. Enquanto o país enfrentava sacrifícios na etapa mais difícil do bloqueio, o ministro da Saúde, David Clark, foi flagrado em uma viagem com a família a uma praia. Pediu demissão. “Fui idiota e entendo porque as pessoas estão com raiva de mim”.
Logo após o início da pandemia, a primeira ministra Jacinda adotou uma estratégia que combinava o rastreamento dos casos com o isolamento de cidades inteiras que registravam novos surtos. Assim, o país de 4,8 milhões de habitantes, totalizou 2.501 infecções e apenas 26 mortes por Covid-19.
Jacinda afirmou que, apesar de seu país estar buscando vacinar o mais rápido possível com o imunizante da Pfizer, o único aprovado no país, não há motivo para correr, pois a Nova Zelândia está em boa situação. E isso graças à liderança e competência da Jacinda, à ausência de corrupção, à diminuta e disciplinada população. É claro que em nosso país – por ser continental – o problema é bem maior. Mas, que poderia estar melhor, ninguém pode negar.
Se eu mudar para lá poderei escrever no Voice of New Zeland, caso exista. O problema é que não sei inglês, não sei usar computador e nem celular, não sei dirigir, tenho muitas primaveras e nenhum dólar. Por isso, já sinto vontade de desistir de mudar para o país da Jacinda e ficar por aqui mesmo cuidando das belas e frágeis primaveras do meu jardim.