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Você sabe a fórmula da água?

Ana Cristina Piletti

No dia 15 de maio, por todo o país, estudantes, professores, lideranças e representantes de entidades de classe foram às ruas protestar contra os cortes na Educação anunciados pelo atual governo. Ao saber das manifestações, o então Presidente da República declarou “É natural, é natural. Agora…a maioria ali é militante. É militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil” (G1, 15/05/2019).
Além de demonstrar falta de disposição para o diálogo, a resposta de Jair Bolsonaro evidenciou ainda mais sua inabilidade política e, para alguns críticos, sua dificuldade com o raciocínio lógico, ou seja, com a filosofia. Assim explicou o escritor e humorista Ricardo Araújo Pereira: “Se os manifestantes não sabem de multiplicação nem de química, isso demonstra a absoluta necessidade de investir na educação, em vez de cortar. Se, pelo contrário, eles são capazes de fazer contas e determinar o número e o tipo de átomos que constituem uma molécula, então são pessoas instruídas e, por isso, em princípio as suas opiniões sobre educação são válidas, o que significa que cortar na educação é errado”. (FSP, 19/05/2019).
Em qualquer um dos casos, os cortes na Educação seria justamente a opção errada, concluiu o mencionado escritor. Porém, o que parece ser ainda mais grave é a falta de empatia em relação aos interesses deste grupo. A dificuldade em aceitar a discordância e a agressividade no discurso dirigido aos manifestantes revela a necessidade de se investir naquilo que o Presidente da República e alguns membros de sua equipe mais tem desprezado, isto é, uma formação humanística e cultural mais sólida. Ou seja, para além da memorização da tabuada e da fórmula da água, é preciso desenvolver o pensamento crítico e a capacidade de dialogar com grupos e pessoas com opiniões divergentes.

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