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Você é um eleitor fake?

Ana Cristina Piletti

Divulgar fatos que sabe ser mentiras como sendo verdades não é um fenômeno novo, porém seu efeito foi potencializado com o advento das redes sociais. Conhecidas como fake news, o uso das notícias falsas tornou-se uma estratégia eleitoral corriqueira para desacreditar adversários. Inclusive, tal conduta foi tipificada como crime no Código Eleitoral no ano de 2021. Se fake é ser sabidamente mentiroso, o que é ser um eleitor fake?
O eleitor fake não é o eleitor que divulga notícias que sabe ser falsas. Este é o eleitor mau caráter porque deliberadamente escolhe prejudicar outras pessoas. Também não é o eleitor que propaga fake news sem saber da inverdade dos fatos. Este é o eleitor ingênuo, inconsequente ou alienado. É ingênuo porque ainda acredita em tudo que é divulgado ou compartilhado por amigos e familiares nas redes sociais. É inconsequente porque não avalia as consequências negativas que seu comportamento pode trazer para a coletividade. É alienado porque não checa as informações que recebe e simplesmente segue a “boiada”, reproduzindo o falso discurso.
O eleitor fake, ainda pior, é o maior mentiroso de todos, porque consegue até enganar a si próprio. Ele tem consciência da mentira que é contada, mas finge que não tem. É a espécie de eleitor que tem vergonha de assumir suas próprias convicções. Assim, para evitar o autoengano e se tornar um eleitor autêntico, vale um exercício de autorreflexão sobre suas crenças. Pergunte-se:

  1. A escolha sexual do meu filho mudaria o que sinto por ele?
  2. Sou a favor do armamento da população?
  3. Sou a favor da tortura de algum ser humano?
  4. Eu votaria em alguém que desrespeita as instituições democráticas?
  5. Minha situação econômica está melhor agora do que dez anos atrás?
  6. Sou a favor da redução dos benefícios dos trabalhadores e aposentados?
  7. Acredito que informações de interesse público devam ter sigilo por cem anos?
  8. Acredito que uma pessoa seja pior do que outra, pela sua religião, gênero ou cor?
  9. Acredito que remédios como a cloroquina salvaram mais vidas do que a vacina contra a COVID-19?
  10. Acredito que a corrupção no Governo Federal acabou?
    Estas são algumas perguntas que podem ajudar qualquer eleitor a refletir sobre suas crenças. Caso tenha respondido “sim” a maioria das perguntas, você está mais propenso a manter o atual governo do que buscar uma mudança. Estará, agora, fazendo isso de uma maneira consciente. Afinal, como já cantava a banda Legião Urbana na canção “Quase sem querer”, “mentir para si mesmo é sempre a pior mentira”.

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