Colunistas

Tudo como antes no quartel de Abrantes

Claudino Piletti

Abrantes é uma pequena cidade do interior de Portugal onde há um antigo quartel que permanece sempre igual. Assim, a expressão “tudo como antes no quartel de Abrantes”, é usada em relação a algo que não muda. É o caso do nosso país, um quartel de Abrantes cujo alto comando é exercido por um tal de ‘centrão’.
Não é de hoje que o centrão comanda nosso país. Já em 1988, o deputado José Genoíno afirmou que “as emendas do centrão só não privatizam as Forças Armadas e a Igreja, que continua de Deus”. Na realidade, o centrão é uma composição política que veio à luz com o regime nascido da Constituição de 1988 e comandou nos governos Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer.
Na eleição desse ano, o centrão, constituído pelo DEM, PP, PR, SD e PRB, após longo tempo de indefinição, decidiu apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente. Com esse importante apoio, Alckmin terá 44% do tempo de propaganda na TV, receberá 48% do total do dinheiro do Fundo Partidário e, em tese, terá o apoio de 52% dos prefeitos do país.
Aos que o criticaram por essa aliança, Alckmin respondeu: “Os que criticam, até o último segundo do 2º tempo, estavam lutando para conseguir aliança e não conseguiram”. (Folha de S. Paulo 5-8-2018).
O que querem os partidos que compõem a aliança do centrão com o candidato Alckmin, é assegurar o comando do Congresso e de alguns ministérios importantes para, assim, terem certeza de que tudo continuará como antes no quartel de Abrantes. Por isso, o jornal Folha de S.Paulo de 21 de julho de 2018, em seu editorial, afirmou: “O preço desse acordo, em termos eleitorais, já está de certa forma contabilizado. O ex-governador paulista não poderá se apresentar como um renovador dos costumes políticos ou um paladino da ruptura institucional (…) Seu desafio, nesse sentido, é o que acompanha toda a política brasileira: desvencilhar-se do lastro de atraso de um grupo de legendas cujo apoio nenhum governo, afinal, tem conseguido dispensar”.
E, mesmo que Alckmin não vença essa eleição, o próximo presidente, seja ele quem for, não conseguirá governar sem o centrão. Em troca de cargos em ministérios e estatais, o centrão sempre ameaça governos de turno de bloquear qualquer medida de peso como, por exemplo, uma reforma importante. E, até hoje, nenhum presidente foi contra este poderoso grupo que representa parte importante das oligarquias regionais e da elite nacional.
“Enquanto isso…o povo; continua no partido; do feijão-arroz com ovo: paga os impostos devidos; já que são mesmo embutidos; solta lá alguns gemidos; ‘tudo bem’, nada de novo.”
(Poema de Domingos Pellegrini)

Comments

comments