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Toda a direita é extrema?

Ana Cristina Piletti

O termo “extrema direita” tem ganhado cada vez mais espaço na mídia e é frequentemente usado pela população em geral. Muitas vezes, ele está associado a lideranças populistas e/ou autoritárias, como Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil e até mesmo candidatos locais, como Pablo Marçal na cidade de São Paulo. Mas essas personalidades realmente representam a extrema direita? Afinal, o que é extrema direita? Será que toda direita é extrema?

Direita e esquerda, de maneira geral, referem-se a forma como pessoas, partidos e instituições pensam a política, a economia e a sociedade. A diferenciação entre direita e esquerda surgiu durante a Revolução Francesa, no final do século XVIII. Assim, quem defendia mais igualdade e mudanças sociais se sentava à esquerda do rei, e quem era a favor de manter as tradições e privilégios da aristocracia ficava à direita. Com o passar do tempo, esses termos foram assumindo novos significados conforme o contexto histórico e geográfico, bem como tornando-se conceitos mais multifacetados.

Segundo o pesquisador Marcus Eugênio Oliveira Lima e sua equipe da Universidade Federal de Sergipe (2022), a direita moderna é frequentemente associada à defesa de uma “ordem ameaçada ou perdida”, acompanhada de uma crítica contundente à política tradicional e aos políticos. Esse discurso gera no cidadão um sentimento de desconexão e desobediência em relação às instituições políticas, o que ajuda a distinguir correntes mais moderadas daquelas que se alinham à extrema direita, caracterizada por uma postura mais radical e autoritária. O cientista político holandês Cas Mudde explica que a extrema direita atual não se apresenta como um grupo unitário. Ela é marcada por uma agenda que mistura nacionalismo extremo, rejeição das elites políticas e intelectuais, e um foco em identidades culturais e raciais que, muitas vezes, resultam em políticas de exclusão e intolerância. Destaca que o crescimento da extrema direita não ocorre de forma isolada, mas frequentemente com a colaboração de setores considerados moderados, que acabam legitimando suas pautas (O Globo, 18/09/2022).

Assim, figuras como Donald Trump, Jair Bolsonaro e outros líderes populistas emergentes podem ser associados à extrema direita devido ao estilo autoritário e às suas agendas políticas polarizadoras. No entanto, nem toda direita é extrema. A direita política, em sua forma mais tradicional, pode defender valores conservadores, a preservação das tradições e uma crítica à interferência do Estado, sem, contudo, recorrer ao autoritarismo ou à intolerância. A extrema direita, por outro lado, tende a adotar uma postura mais radical e excludente, muitas vezes atacando minorias, promovendo o nacionalismo extremo e deslegitimando instituições democráticas.

Um dos maiores desafios do crescimento da extrema direita é a ameaça que ela pode representar para as democracias. Para os cientistas políticos de Harvard, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, essa ameaça nem sempre se materializa em golpes militares, mas muitas vezes em líderes eleitos democraticamente que usam a lei para concentrar poder de maneira autoritária. Portanto, para proteger a democracia, é essencial que políticos e líderes não recorram às mesmas táticas autoritárias e polarizadoras de seus adversários, pois isso pode enfraquecer ainda mais as bases democráticas que devem ser defendidas. Em vez disso, é preciso fortalecer o diálogo, a transparência e o respeito às regras e instituições garantindo que a democracia permaneça viva.

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