CidadeDestaques

studantes presos em Ibiúna em 68 são anistiados

Ibiúna recebeu um dos mais importantes momentos aguardados pelo movimento estudantil em junho. A comissão de Anistia, presidida pelo Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, realizou na cidade, durante o 11º Congresso da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), ato de reparação coletiva e homenagem aos 720 estudantes presos pela ditadura militar no município em 1968 durante o 30º Congresso de União Nacional dos Estudantes (UNE). Para acompanhar a cerimônia, a Caravana da Anistia e a UEE-SP convidaram para o evento os estudantes da geração de 68 presos na ocasião. Entre os que lideravam o movimento estudantil e estiveram presentes, destacam-se nomes como Franklin Martins, Augusto César Petta, Paulo Vannucchi, Reinaldo Morano Filho, Leopoldo Paulino, José Genuíno, Marília Carvalho Guimarães, José Dirceu, Liége Rocha, Dalmo Ribas, entre outros.
Ao abrir a cerimônia o presidente da UEE-SP, Alexandre Cherno Silva declarou: “Realizar o 11º Congresso em Ibiúna significa reafirmar o compromisso dos estudantes de hoje com as gerações anteriores. A geração de 68 não é só pra nós uma inspiração do dia a dia, mas é também a geração que conseguiu imprimir na identidade do movimento estudantil algumas características que são próprias da juventude, a combatividade, a abnegação da luta em defesa do Brasil, o patriotismo e a coragem estão presentes não só nessa geração de 68, mas também na geração que é nascida e criada na democracia. Nós estudantes reunidos neste Congresso viemos reafirmar que o período que compreende entre 65 a 85 foi fundamental pra juventude ir pra rua e denunciar todos os crimes cometidos durante a ditadura. Hoje estamos em Ibiúna não só para apurar esses crimes, mas para fazer uma justiça histórica”.
Os estudantes que saíram de Ibiúna presos e apontados como terroristas, retornaram à cidade como verdadeiros heróis que resistiram à opressão e atrocidades do Regime Militar. Com essas palavras o Presidente da UEE-SP, abriu o evento, que contou com mais de 1500 estudantes de todo o Estado de São Paulo.
O Prefeito Professor Eduardo agradeceu a todos os estudantes por esse momento, dizendo “Ibiúna se sente muito agradecida ao movimento estudantil por terem lembrado da cidade que há 45 anos foi palco daquele Congresso que não terminou, mas que marcou a história do nosso país, a história da liberdade, da luta contra a repressão. Hoje as lutas estudantis podem ter mudado talvez o foco, são outros motivos, mas a luta não pode parar. Então os estudantes de 68 que estão aqui são exemplos vivos para os estudantes de hoje para que essa luta e este momento seja exemplo para todos nós”.
Paulo Abrão, Presidente da Comissão de Anistia disse que a Comissão está possibilitando a reconstrução da memória da luta contra o autoritarismo e da verdade para a nova geração. “Nós não estamos discutindo passado para resolver problemas do passado, nós estamos debatendo e conhecendo os problemas do passado para apontar novas soluções para o futuro e para o presente. Nós temos hoje um encontro da geração que produziu as principais conquistas políticas e de mudanças sociais no Brasil.”, acrescentou.
Na mesma tarde (15), o Presidente Abrão deu andamento aos processos de julgamentos de Gonzalo Barreda e Etelvino Bechara que foram concluídos, assim como o devido pedido oficial de desculpas do Governo brasileiro pela opressão e tortura cometidas pela ditadura militar. Com um discurso emocionado, Bechara, professor titular do Instituto de Química da USP, falou sobre o que representou o evento. “É um resgate à memória dos nossos colegas que foram, mortos e perseguidos durante a ditadura e, ao mesmo tempo, traz uma mensagem para a geração mais jovem, no sentido de manter-se alerta sobre qualquer movimento dos governos com autoritarismo, repressão, restrição à liberdade de imprensa e outros atos que no passado aconteceram e causaram muito atraso aos brasileiros”, salientou o anistiado. O julgamento do processo de Gonzalo também foi concluído com a concessão da Anistia. Peruano e ex-estudante da Escola Politécnica da USP, ele fez questão de destacar sua paixão pelo país.
O grande marco do evento foi a inauguração de um monumento em homenagem às lutas estudantis que está localizado em frente à Capelinha do Bom Jesus, na Av. São Sebastião e foi doada pelo artista plástico e estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), de 1968, Cláudio Tozzi, que declarou que a obra significa um vínculo de que a história continua e que o movimento tem uma grande ligação com todo país, dando cada vez mais continuidade a uma luta por uma democracia maior, por um país mais justo.
Neusa Simões, viúva de Domingos Simões e ex-proprietária do sítio onde ocorreu o Congresso saudou a todos os presentes e disse sobre a emoção de estar presente no evento. “É de grande importância ter coragem, não ter medo de lutar pelas causas justas.” E alertou aos jovens: lutem pela igualdade, pelo fim dos preconceitos, lutem pelos direitos de todos os seres humanos.
José Dirceu falou em nome daqueles que não puderam comparecer porque morreram lutando. “Vou falar em nome dos companheiros e companheiras que deram a vida para que o Brasil vivesse em democracia e liberdade. Nós hoje aqui ao fazer essa homenagem à geração de 68, ao resgatar a memória do Congresso da UNE no 30º Congresso, lembremos deles que pelo caminho caíram para que hoje o nosso país vivesse em liberdade e democracia”.
O congresso também serviu de encontro entre os colegas da luta estudantil para relembrar momentos únicos na história do Brasil. “Esse acontecimento não representa só a coragem da juventude, é também uma lembrança das nossas lutas cravadas ao longo dos anos. A juventude terá que dar continuidade a essa luta pra chegarmos na sociedade que tanto almejamos”, ressaltou Augusto César Petta, que em 1968 era presidente do Centro Acadêmico do Curso de Filosofia da Puccamp.
Outro protagonista dessa história, que esteve presente nos tempos de luta contra a ditadura militar e também compareceu à Cerimônia de Homenagem foi o escritor (e músico nas horas vagas) Leopoldo Paulino, que deixou clara sua emoção com a presença de José Dirceu que foi um dos principais líderes do movimento estudantil na época e deixou também um recado para os estudantes pedindo para que eles procurem se informar sobre nossa história e participar, porque isso é fundamental.
Durante a cerimônia de inauguração do monumento, aproximadamente 40 estudantes da Escola Estadual Professora Laurinda Vieira Pinto cantou em prosa e verso o que foi o Regime Militar no Brasil e qual o papel do movimento estudantil durante esse período.  Em seguida houve também a apresentação da peça teatral “1968 – O Último Ato” do Grupo Re-Atores, com elenco formado por jovens ibiunenses, além de outras atrações musicais diversas.
Na tarde do dia seguinte (16), ocorreu a votação para eleger o novo presidente da UEE-SP.  Com 70,2% dos votos o cargo foi ocupado pela estudante de Economia da Unip, Carina Vitral, 24 anos. Segundo Carina, a regulamentação do ensino superior será o primeiro assunto a ser colocado em pauta durante sua gestão. Ela é conhecida entre os estudantes pela atuação incisiva e pela força de suas palavras, é filiada ao PCdoB e integrou a diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Comments

comments