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“Somos 70%”: de quem estamos falando?

Ana Cristina Pilleti

No final de maio, depois dos resultados da pesquisa Datafolha constatarem que a aprovação do atual governo é de apenas 33%, surgiu nas redes sociais um movimento denominado “#Somos- 70porcento”. E, quem faz parte destes 70%?
O empresário e idealizador da campanha Eduardo Moreira explica “[…] a ideia é lembrar que somos 70% contra o que se colocou como projeto de País. Somos 70% que rejeitam a aproximação com o centrão, 70% contra as afirmações de Bolsonaro a favor do armamento, 70% que consideram o governo ruim/ péssimo/ regular, 70% que são contra a política deste governo para a Amazônia, 70% que apoiam o isolamento social […]” (Estadão, 02/06/2020).
Assim, o que reúne este grupo heterogêneo é a insatisfação com a atual condução que segrega o país entre “nós” e os “inimigos”, justamente quando a crise sanitária, política e econômica demanda união e trabalho coletivo. A clássica polarização entre partidos de direita e de esquerda que marcaram os últimos anos deu lugar ao embate entre a barbárie e a civilização.
A barbárie caracteriza-se pelo desrespeito as mínimas regras de convivência social, pela falta de sensibilidade e empatia com o outro, pela ignorância e violência no discurso e nas atitudes. A civilização é marcada pelo Estado Democrático de Direito, pelo respeito à ciência, pela capacidade de conviver com pessoas diferentes e ideias divergentes. Inclusive, a maior prova da civilização é a sua capacidade de aceitar e conviver com pessoas com atitudes características da barbárie. Contudo, por ser barulhenta e caótica, a barbárie muitas vezes silencia a diversidade.
Enfim, é importante perceber que a maioria dos brasileiros são contrários a atitudes agressivas e discursos violentos. E, neste sentido, como destacou Eduardo Moreira, estes 70% não podem sentir-se como se fossem 30%.

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