Editorial

Só chutar cavalete de candidato não ajuda a democracia

Ah, o período eleitoral. O cidadão fica de saco cheio com tanta promessa vaga, quando palavras como “saúde”, “emprego”, “educação” não saem da boca de certos políticos. Ninguém tem mais paciência com o horário eleitoral gratuito (obrigatório) e, como virou moda de anos pra cá, causa irritação a quantidade de placas de candidatos infestando parques, praças, calçadas. Com isso, tem ganhado força um movimento em que cidadãos aparecem chutando e derrubando as estruturas de madeira, postando vídeos na internet. Mas, embora seja um manifesto justo, protestar apenas chutando o cavalete não ajuda em muita coisa o processo democrático no país. É fácil criticar políticos, que sempre prometem o mundo e o fundo sem especificar como irão honrar suas palavras. Sim, pois dizer que vai dar um jeito na educação é fácil, difícil é explicar como. Entretanto, o cidadão por vezes acaba colocando todo e qualquer político em uma vala comum, como se não houvesse diferenças significativas entre grupos e partidos. Mas há! Exemplos? Esqueça a cara de bom moço ou de vovó querida, pesquise sobre o que seu candidato pensa a respeito de temas como cotas para negros, criminalização da homofobia, estado laico, autonomia do Banco Central, privatização da Petrobrás. Isso para ficarmos apenas em alguns temas cruciais para o desenvolvimento do Brasil. Mas, mais produtivo que chutar cavalete é se informar sobre o que está acontecendo no cenário político administrativo brasileiro. Você sabe a respeito de alguma lei em tramitação no Congresso Nacional? Se não sabe, não adianta reclamar dos políticos, pois você deveria se informar, para então cobrar do seu representante. E não adianta dar uma “espiadinha” no Jornal Nacional, levar a sério aquele humorista reacionário ou o velho roqueiro rebelde sem causa e inútil, ou ainda compartilhar na internet uma frase de efeito contra a Dilma e considerar que está fazendo sua parte. Afinal, o facebook fez multiplicar a população de filósofos, sociólogos, economistas prontos para emplacar qualquer frase de efeito só para você curtir, compartilhar e comentar com a frase “falou tudo!”. Cuidado, você pode correr o risco de parecer um completo idiota, ajudando a espalhar a desinformação pela internet.Os cavaletes – bem como todo o material político – enchem o saco? Sim. Revoltar-se contra eles é um direito do cidadão? É! Resolve o problema do Brasil? De jeito nenhum. O que resolve é a sua participação efetiva no processo político brasileiro, bem como o discernimento ao escolher seus representantes. Enquanto o cidadão encher a internet de desinformação e não reservar um tempinho para ir àquela audiência pública – que muitas vezes fica vazia, vazia, chocha, choca e com os mesmos gatos pingados de sempre -, pode chorar, chutar, fazer barulho que nada vai funcionar. Entendeu agora porque as manifestações de junho de 2013 não deram em muita coisa?

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