Colunistas

Será que voltaremos a nos falar? Comunicação
e pacificação das relações sociais

Anna Laura Biasoto de Mattos Foltran – Estudante de Relações Públicas da Universidade de Sorocaba
Ana Cristina Piletti – Advogada e doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo

A acirrada disputa das eleições presidenciais polarizou ainda mais as relações familiares e sociais. Reuniões presenciais e virtuais foram permeadas por discursos de ódio e intolerância. Independente do lado, certamente, em algum momento, você deve ter se sentido excluído por julgamentos radicais. Defendeu uma pauta mais social e foi tachado de comunista. Defendeu uma pauta mais conservadora e foi chamado de fascista. Você não entendeu nada ou, no calor da emoção, extrapolou na resposta. Foi excluído ou desistiu de conviver com pessoas que lhes eram queridas, próximas ou, simplesmente, poderia cultivar algum vínculo. E agora? As eleições acabaram. Será que o ódio acabou? Será que vamos voltar a conviver e a tolerar nossos adversários?
Primeiramente, adversário não é inimigo, assim como conflito não é guerra. Toda relação construtiva pressupõe divergências. O adversário é uma pessoa que representa o lado oposto do conflito. Busca argumentar com fatos e dados legítimos. O adversário é fundamental para entender que em uma moeda sempre existem dois lados, permitindo que diferente posição tenha voz e representatividade. Por outro lado, inimigo é aquele que enfrenta o lado oposto com hostilidade. É aquele que diz “ou você está comigo ou contra mim”. Não sabe conviver com a diversidade e ignora opiniões divergentes. É possível que o conflito evolua para a paz ou para a guerra. A paz, diferente da imagem de absoluta tranquilidade, é permeada por discussões, divergências e debates. Afinal, impossível todos concordarem em tudo. A guerra, por outro lado, é a tradução da intolerância, do ódio e da violência. É quando qualquer forma de diálogo se extingue e o que sobra é a agressão e a falta de humanidade.
Luiz Signate, em seu artigo “Comunicação e paz”, afirma que “O conflito é resultado imediato da heterogeneidade social, devendo, por isso, ser estudado como tal. Em outras palavras, as relações sociais são fundamentalmente conflitivas, por conta das próprias diferenças entre os sujeitos, isto é, porque resultam de alteridade”. Alteridade significa “ser o outro”, basicamente, resume-se na capacidade de reconhecer as diferenças entre o “eu” e o “outro”. Hoje, o termo empatia também traduz a nossa capacidade de se colocar no lugar do outro. Sem empatia, o diálogo é inócuo.
O diálogo é a matéria prima de alguns profissionais. Entre eles, estão relações-públicas e advogados. O primeiro é um comunicador que, na maioria das vezes, atua em ambientes organizacionais a fim de construir relações simétricas com consumidores funcionários, comunidade, entre outros públicos da organização. É o profissional que gerencia conflitos e, muitas vezes, previne lides judiciais. Os advogados, por sua vez, cada vez mais são estimulados a buscar soluções alternativas de conflitos por meio da mediação, conciliação e negociação.
Assim, o diálogo é uma ferramenta poderosa na pacificação social. É a esperança de governos e de sociedades. Embora um profissional apto a lidar com conflitos seja fundamental em ambientes complexos, você também pode melhorar as suas relações familiares e sociais por meio o diálogo. O que falta para você se aproximar e voltar a discutir de forma civilizada com aqueles que lhe são queridos? Certamente, essa é a hora de praticar.

Comments

comments