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Respiro, portanto existo

Há coisas das quais não nos damos conta e, por isso, quase nunca falamos: de que respiramos, de que abrimos e fechamos os olhos, da água que bebemos, dos amigos que temos. É mais normal falar do nosso time – que anda caindo pelas tabelas –, das “abobrinhas” ditas por políticos – que não são poucas –, de quem mete chifre em quem – segredo que todos sabem – de quem mete a sua mão no dinheiro público – que a justiça está revelando – enfim, das fofocas e fatos do cotidiano.
O coronavirus, no entanto, veio nos lembrar que respiramos. A propósito, das comoventes mensagens surgidas nas redes sociais nesses tempos de pandemia, entre as que mais me comoveram está a da filha de Vieira Monteiro – presidente do Banco Santander, infelizmente falecido no dia 14 de abril 2020 de coronavirus –, que escreveu “somos uma família milionária, mas o meu pai morreu sozinho sufocado, buscando algo que é grátis: o ar. O dinheiro ficou lá em casa”.
Outra mensagem é de um senhor de 93 anos que, após receber alta no hospital por coronavirus, foi lhe pedido que pagasse pelo uso do respirador por um dia. O homem começou a chorar. O médico disse-lhe que não precisava chorar pela conta a pagar (mais ou menos 500 euros). O que aquele homem disse fez todos os médicos chorarem: “Eu não estou chorando pelo que tenho que pagar. Eu posso pagar por tudo isso. Estou chorando porque estou respirando pelo ar que Deus me deu por 93 anos e nunca paguei por isso. Se custa 500 euros por usar o ventilador um dia no hospital, você pode ter ideia de quanto devo a Deus. E nunca agradeci por isso antes”.
São poucos os que agradecem… Mas, pior do que não agradecer, é impedir que outros respirem. É o que fez aquele policial dos Estados Unidos, o país mais desenvolvido do mundo, que, com o joelho sobre o pescoço de George Floyd, um homem negro, impediu-o de respirar, o que provocou sua morte. E, por diversas vezes, Floyd lhe suplicara: “Não consigo respirar”.
Mesmo que o filósofo francês Descartes (1596-1650) tinha afirmado que existimos porque pensamos – “penso, portanto existo”, disse-nos ele – sabemos, no entanto, que é o ato de respirar que nos mantêm na existência. Por isso, contrariamente ao filósofo francês, pode-se dizer: “respiro, portanto existo”.

Claudino Piletti

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