Quem pagará o pato?
Claudino Piletti
Não me refiro ao jogador de futebol Pato, pelo qual o Corinthians pagou 40 milhões de reais e o vendeu por 10 milhões de reais. Assim, o clube do povo pagará o pato.
Refiro-me a outro pato, que tem a ver com a atual crise do país, provocada, sobretudo, por uma corrupção sem precedentes em nossa longa e conturbada história.
E quem pagará este pato? Para saber, basta ouvir o que prometem os co-responsáveis pela crise: “medidas impopulares”. Ora, “medidas impopulares”, são contra quem? Contra os políticos? Contra os banqueiros? Contra os empreiteiros? Nada disso! Como a palavra o diz, são contra o povo.
Assim, uma boa parte do povo, constituída pelos mais de 11 milhões de desempregados e seus dependentes, está pagando o pato. Pode-se dizer o mesmo dos que esperam dias e dias para serem atendidos em hospitais públicos. E, ainda, daqueles que vão ao supermercado e que, sem comprar pato, eles o pagam, pois seu preço vem embutido nos altos impostos que incidem sobre tudo o que compram.
Pagam o pato alunos cujo ensino é de tão baixa qualidade que não têm motivação para estudar. E, também, professores cujo salário é tão baixo que não têm motivação para ensinar. Pagam o pato os milhões de brasileiros que não têm meios de transporte decentes para ir ao trabalho. E, também, os milhões de motoristas de caminhão, ônibus e automóveis que arriscam a vida em estradas mal conservadas. E o que dizer da falta de segurança que se observa em nossas grandes cidades? A única coisa a dizer é que é o povo pagando o pato.
Há duzentos anos, o escritor francês Courier (1772-1825) afirmou: “O povo paga – é uma verdade de todos os tempos, de todos os países, de todos os governos”. E, podemos acrescentar: sobretudo dos governos ditatoriais e dos governos populistas, sejam de direita ou de esquerda.
Assim, inútil o povo reclamar de ter de pagar o pato. Mas, pode reclamar do preço, que nunca foi tão alto. Se o pato do Corinthians custou à bagatela de 40 milhões, o do Brasil custou muitos bilhões de reais. Só com os juros da dívida, o país gastará, neste ano, 400 bilhões de reais. O povo levará muitos anos para pagar este pato.
Enquanto isso, os responsáveis e co-responsáveis pela crise refestelam-se comendo pato. Aqui o comem ao molho de laranja, ao molho pardo, recheado com castanhas, ameixas ou maçã e, sobretudo, comem pato no tucupi. E, quando vão a Paris – que o fazem seguidamente – comem terrina de foiegras, patê de pato à moda de Amiens, pato com nabo e sidra, etc. Para o povo, que paga o pato, só nabo. Haja rabo! E, se o povo decide reclamar, o acusam de alguma patologia e, tudo resolvido.