Queiramos ou não, estamos todos no mesmo barco
Claudino Piletti
No dia 3 de novembro, um sábado de feriado prolongado, no final da tarde e início da noite, em Itanhaem, no litoral paulista, o mau tempo provocou o naufrágio de um barco com 12 pessoas a bordo. Dessas, 9 foram salvas mas, infelizmente, 3 morreram. Ao ler a notícia, alguém que não embarcou, deve ter pensado: ainda bem que não embarquei. Há um barco, no entanto, no qual, queiramos ou não, estamos todos: o nosso país.
Trata-se de um barco que precisa de bom tempo para navegar. E, com nossa política e políticos, teremos esse almejado bom tempo? Confesso que não sei. E, como filósofo grego Sócrates (469-399 a.C), digo mais: “Só sei que nada sei.”
Mas, pelo que andei lendo, alguns leitores e escrevinhadores do prestigioso jornal Folha de S. Paulo, parecem que sabem tudo. Um leitor, por exemplo, escreveu: “Se Bolsonaro for eleito tempos difíceis virão” (20/10/2018:A3) Estaríamos, então, sem o saber, navegando num mar de rosas?”
Um dos sábios escrevinhadores, por sua vez, decretou: “Bolsonaristas não são democratas liberais e não vão proteger coisa alguma” (19/10/2018:A6). Outro, do alto do seu saber, advertiu: “A escolha é entre civilização e barbárie.” (22/10/2018:A3) A barbárie, é claro, seria o Bolsonaro, comparado pelo arguto escrevinhador, àquele doido que, no século passado, “levou ao Holocausto e à mais sangrenta guerra da história da humanidade” e que, por isso, foi considerado “o maior criminoso do século 20”. E, após comparar Bolsonaro a um certo presidente que tivemos, ele conclui seu sombrio artigo, afirmando: “Aquele roubou-nos apenas a poupança. Este promete subtrair-nos a cidadania e a dignidade.”
Foram tantos os textos nessa linha que não seria de estranhar se, uma mãe ou babá, assustasse a criança que não quer comer dizendo: “Come senão chamo o Bolsonaro para vir comer.” Ou, se o Filipão, técnico do Palmeiras, dissesse a seus jogadores: “Sejam campeões, senão chamo o palmeirense Bolsonaro para dar-lhes uma sessão de ‘treinamento’ semelhante ao que era dado nos porões da ditadura”. E, finalmente, se um cansado e desiludido professor dissesse aos seus indisciplinados alunos: “Se comportem senão chamo o Bolsonaro para vir ensinar-lhes com quantos paus se faz um instrumento de tortura”.
Brincadeiras à parte, o certo é que uma onda de catastrofismo invadiu o jornal Folha de S. Paulo na eleição desse ano. “Catastrofismo” é a teoria formulada pelo paleontologista francês Jorge Cuvier (1769-1832) segundo a qual as transformações do relevo da Terra seriam devidas a grandes convulsões da natureza.
Mas há, também, o catastrofismo político. Um exemplo óbvio é a frase da Marquesa de Pompadour (1721-1764): “Depois de nós, o dilúvio!” Ela a teria proferido para consolar o rei Luís XV, da França, de uma derrota.
Meu desejo, nessa véspera do aniversário da Proclamação da República, é que nenhuma das catastróficas previsões de leitores e escrevinhadores da Folha se realizem. Sei que muitos, sedentos de vingança, desejam ao contrário. A esses eu lembraria: “Queiramos ou não, estamos todos no mesmo barco!”.