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Psicólogo: para loucos ou para todos?

Luis Fernando M. Grohs

Uma das imagens bastante difundidas dos Psicólogos é que são profissionais que “tratam loucos”. A conclusão desse pensamento é que “nada melhor para entender um louco que ser pelo menos um pouco também”! Mas afinal, o psicólogo é um profissional que “trata loucos”? Para começar, o termo “loucura” muitas vezes é usado para rotular alguém, ou seja, para identificar uma pessoa por um “problema”. Deixa-se de ser uma pessoa com suas relações familiares e conjugais. Tanto faz o que ela aprendeu algo durante a vida. Não importa se é sociólogo ou carpinteiro. Não faz diferença se amou, se gosta de assistir teatro ou se teve filhos. Nada disso importa. Se a pessoa é estranha, é “louca”. Também seria hipocrisia dizer que o “louco”, como categoria social, não existe. Faz parte de nossa história. Muitos dos primeiros atendimentos em relação à saúde mental foram em instituições manicomiais, os antigos hospícios. Além disso, foi necessário muito esforço dos primeiros terapeutas para que aquilo que hoje chamamos de problemas psicológicos não fossem entendidos como possessão demoníaca ou fingimento. Ainda assim podemos dizer que o foco estava na doença e não na pessoa.Contudo, o problema do rótulo vai mais além. Existem ou poderão existir vários momentos nas nossas vidas nas quais nos sintamos muito tristes, confusos, ansiosos ou então que tenhamos a “mania” de verificar três vezes em seguida se trancamos a porta. Imagine que você tenha alguma dessas dificuldades e que começou a sentir que algumas coisas não vão indo muito bem. Na era digital podemos em menos de um minuto consultar o Google para listar uma série de sintomas das “doenças da mente”. Se você ler todos é difícil não se identificar com ao menos um deles. Nesse momento de desespero, alguns diagnósticos que tem utilidade específica começam a virar rótulos, e nos perguntamos se “temos” depressão, se “somos bipolares” e se estamos com “TOC” (transtorno obsessivo compulsivo). Acreditamos estar com um problema e queremos ao menos saber “o que temos”! Ao nos identificarmos com algum rótulo, sentimos em segredo que somos ao menos um pouco “loucos”. Agora só devemos evitar procurar o psicólogo para que as outras pessoas não saibam!No entanto, o Psicólogo busca em sua prática enxergar a pessoa e suas especificidades que lhe trazem sofrimento, e não uma doença acompanhada de um corpo. Busca o completo bem-estar, e isto não significa ausência de dor. Não sofrer, não brigar com a família, não ser ansioso são metas praticamente impossíveis para quem vive. Nossa vida tem inúmeros desafios e possibilidades positivas. É este ser humano integral que o Psicólogo vê, e não o “louco”. Por fim, para responder à questão inicial, o Psicólogo ajuda sim “loucos”, se entendermos assim aquele que é discriminado ou que sofre em silêncio. Porém, sua atuação vai além. Buscar o bem-estar se relaciona com valores que ultrapassam a ideia de doença.  Psicólogo é o profissional que nos ajuda com as mudanças que desejamos para nossas vidas. Por isso, é um profissional que pode ajudar a todos!  O autor é Psicólogo – CRP 06/130270.

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