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Por que o dólar subiu e a bolsa caiu diante das propostas de ajuste fiscal do governo federal?

Ana Cristina Piletti

As recentes medidas anunciadas pelo governo federal para ajustar as contas públicas geraram forte reação no mercado financeiro. O dólar, mesmo após intervenção do Banco Central, atingiu R$ 6,03, enquanto o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, recuou 1,13% (G1,13/12/2024). Por que isso ocorreu e como essa situação afeta a nossa vida cotidiana?
O Ibovespa caiu porque investidores temem que as empresas possam lucrar menos diante de novas formas de tributação e cortes nos gastos públicos. O dólar subiu porque investidores buscaram segurança na moeda americana, fenômeno conhecido como “fuga para ativos seguros” (CNN, 04/12/2024). Por exemplo, quando o governo propõe limitar o reajuste do salário-mínimo e dos benefícios sociais, investidores avaliam que o consumo interno pode cair, afetando diretamente o desempenho de empresas listadas na bolsa.
Dentre as medidas propostas pelo governo destacam-se: a) a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, garantindo que “a medida será compensada por uma tributação maior para quem recebe mais de R$ 50 mil por mês”; b) combate aos supersalários no funcionalismo público; c) mudança nas regras de aposentadoria e pensões para militares; d) revisão de critérios para concessão de benefícios sociais e; e) aumento de impostos para as faixas de renda mais altas.
O ministro da Fazenda Fernando Haddad declarou que “as medidas consolidam o compromisso deste governo com a sustentabilidade fiscal do país” (Gazeta do Povo, 14/12/2024). No entanto, Alberto Ramos, do Goldman Sachs, criticou dizendo que “as medidas apresentam um rendimento incerto e não são tão claras quanto aos seus benefícios para a política fiscal” (Estadão Investimentos, 28/11/2024).
O pacote enfrenta desafios no Congresso Nacional, com algumas medidas aprovadas em regime de urgência. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), prometeu tentar concluir as votações antes do recesso parlamentar, mas resistências políticas e incertezas econômicas mantêm o mercado em alerta (Senado, 13/12/2024). Por exemplo, se o governo propõe limitar o aumento do salário-mínimo para controlar gastos, sindicatos podem se opor, pois isso afeta trabalhadores. Se o Congresso não aprova a medida, o governo pode gastar mais do que planejou, o que preocupa o mercado e pode levar a um aumento da inflação.
Assim como uma panela de pressão sem válvula de escape, a economia brasileira sente o aumento do dólar no custo de vida. Produtos como eletrônicos e alimentos ficam mais caros, tornando inevitável o impacto sentido no bolso das famílias brasileiras. Para o cidadão comum, é como um cobertor curto: ao puxar para cobrir um lado, o outro pode ficar descoberto. Isso mostra como decisões econômicas afetam o dia a dia de todos nós.

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