O Vírus do Ipiranga
De tanto ouvir a palavra vírus, deve-se ter todo o cuidado, nesta semana da pátria ao cantar o hino nacional, para não trocar as palavras iniciais “ouviram do Ipiranga…”, por “o vírus do Ipiranga…” E, também, para não confundir Ipiranga, local onde foi proclamada nossa independência, com posto Ipiranga, como é conhecido nosso atual ministro da economia.
Hoje, sob efeito do coronavírus e de outras causas, nossas margens sociais, econômicas e políticas não andam tão plácidas como aquelas que são cantadas no hino nacional. E, algum dia andaram? Mesmo assim, devemos celebrar a pátria que, segundo o grande Rui Barbosa (1849-1923), é “a família amplificada”. Só que, a família à qual ele se refere, – “divinamente constituída com a honra, a disciplina, a fidelidade, a bem-querença, o sacrifício” – é um tanto rara em nossos dias.
Muitas pessoas, por viverem à margem da economia, não têm condições para constituir uma família que mereça tal nome. Trata-se de um contrasenso, pois, a palavra “economia” deriva do grego (oikos = casa e nomos = lei) e significa “lei da casa”. E, se há tanta desigualdade social, é porque essa “lei da casa” virou a “lei do mais forte”.
Assim, não é de estranhar que patriotismo, em nosso país, ande em baixa. “Não, existem patriotas em filas do INPS”, afirmou o escritor Luís Fernando Veríssimo. Talvez ainda existam alguns em filas para votar. Até quando, ninguém sabe… Depende do que fizerem nossos políticos.
Mas, o que precisa acabar, é o vírus do Ipiranga, isto é, a crença de que a independência foi definitiva e totalmente conquistada com a sua proclamação. Ela, no entanto, é uma conquista que deve ser buscada diariamente por todos os que sonham com uma pátria melhor.
Claudino Piletti