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O que se espera de um prefeito geógrafo

Espera-se que o nosso prefeito, que é geógrafo, não se esqueça da geografia. Sobretudo da geografia humana, cujas principais coordenadas são educação, saúde, produção e transportes.
Espera-se, assim, que faça tudo para evitar que se criem acidentes geográficos, ou seja, que lugares distantes se tornem ilhas por falta de estradas, que o município se torne um arquipélago, isto é, um conjunto de ilhas separadas por falta de estradas e pontes e, finalmente, que ruas da cidade se tornem luas, isto é, lugares cheios de crateras.
Mas, principalmente, espera-se que, ele próprio, não se torne uma ilha. Há políticos que só não são ilhas durante a campanha, quando percorrem estradas e vielas em busca do voto dos mais distantes eleitores. Depois, isolam-se em gabinetes com áulicos, burocratas e companheiros de partido.
“Homem algum é uma ilha”, diz o título de um livro do escritor americano Thomas Merton. Muitos políticos, porém, são ilhas que, ao invés de construir pontes, preferem construir canhões para atacar outras ilhas.
Espera-se que nosso prefeito não se isole. E que não seja como o geógrafo que aparece no livro O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, que diz: “O geógrafo é muito importante para estar passeando. Não deixa um instante a escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, anota as suas lembranças. E se as lembranças de alguns lhe parecem interessantes, o geógrafo estabelece um inquérito sobre a moralidade do explorador.” (1964: 55-56). E, diz ainda: “As geografias são os livros de mais valor. Nunca ficam fora de moda. É muito raro que um monte troque de lugar. É muito raro um oceano esvaziar-se. Nós escrevemos coisas eternas.” O príncipe o interrompe e diz: “Vulcões extintos podem se reanimar.” O geógrafo retroca: “Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós.” (Idem, p. 57).
Para um prefeito geógrafo, porém, não dá no mesmo. Em muitos lugares do planeta e, inclusive, em nosso país, estão ocorrendo manifestações de pessoas descontentes com seus políticos. Trata-se de vulcões que só pareciam extintos.
Em nosso município, apesar das aparências em contrário, há vulcões que não estão extintos. Aspirações legítimas da população, quando por muito e muito tempo deixam de ser atendidas, podem transformar-se em irrupções vulcânicas. E, o problema, nessas irrupções, são os baderneiros.
Espera-se que nosso prefeito geógrafo saiba perceber os sinais antes que o vulcão entre em atividade. Nem que para isso, tenha que fazer um curso intensivo – um intensivão – em vulcanologia, isto é, ciência que estuda fenômenos vulcânicos.
Será esperar demais de um prefeito geógrafo? Penso que não, pois, trata-se de direitos que todo cidadão que cumpre seus deveres tem.

Claudino Piletti

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