Colunistas

O que esperar do mundo pós-pandemia?

Ana Cristina Piletti

A pandemia da COVID-19 certamente entrará para a história como um dos maiores desafios do século XXI. Com impacto mundial, a doença tem afetado diferentes esferas de nossas vidas, tais como saúde, economia, política, educação, trabalho e relacionamentos. No Brasil, por exemplo, a quarentena já perdura há quase cinco meses e modificou muitos de nossos hábitos. Será que estes novos hábitos vão permanecer após a pandemia? O que podemos esperar para o futuro nas diferentes esferas da vida?
Na saúde, além de maior cuidado com a higiene e a limpeza, a telemedicina despontou como possibilidade de garantir assistência aos pacientes preservando-os do risco de contaminação em consultórios, hospitais e até mesmo no transporte público. É provável que a prática permaneça e seja definitivamente regulamentada. Embora não substitua o atendimento presencial, poderá complementar o atendimento básico de saúde, bem como contribuir para expandir o acesso aos serviços em comunidades de locais remotos. Tais mudanças, contudo, demandarão mudanças na formação e aperfeiçoamento dos profissionais de saúde.
Na política, vamos acompanhar um novo modo de fazer campanha. Grandes eventos como os comícios e o tradicional “corpo a corpo” perderão ainda mais espaço para as campanhas digitais. Candidatos e eleitores estarão conectados pela comunicação via internet e redes sociais e os órgãos de fiscalização deverão estar atentos para prevenir e combater as fakes news.
Na economia, muitos negócios precisaram se adaptar ao comércio online e ao sistema delivery. Segundo estudo da Febraban com três mil pessoas, quase metade dos entrevistados afirmou que pretende reduzir a frequência em bares, restaurantes e shoppings centers depois da pandemia; e 30% das pessoas afirmaram que vão comprar mais pela internet (G1, 12/06/20).
O teletrabalho e a educação a distância também transformaram o cotidiano de milhões de empregadores, empregados, professores e estudantes. No trabalho, vivenciamos a consolidação da era da produtividade, sendo o controle exercido pelos resultados em vez do cartão de ponto. O ensino online passou de exceção à regra, exigindo treinamento do corpo docente, investimento tecnológico das instituições educacionais e acesso digital pelo corpo discente. Além disso, trabalhar e estudar em casa exigem autodisciplina, administração do tempo, equipamentos e ambiente doméstico adequado.
Quanto aos relacionamentos, o confinamento aumentou o tempo de convivência entre casais. Pesquisa conduzida pelo Instituto do Casal com 709 pessoas de 18 a 51 anos, e de diferentes orientações sexuais, constatou que as brigas aumentaram entre os casais, sendo que o uso excessivo do celular foi apontando como o principal motivo dos desentendimentos, seguido da divisão das tarefas domésticas e o excesso de críticas (GZH, 16/06/2020). Ou seja, a convivência e a forma como os casais conseguem vivenciar tempos de incertezas e dificuldades juntos será a prova de fogo para fortalecer ou extinguir os relacionamentos.
Por fim, as tecnologias de comunicação e informação perpassam todas as transformações e tendências apresentadas, demonstrando que, como recurso, triunfou em nossos novos hábitos diários. Todavia, ainda precisamos avançar no uso humanizado e ético destas ferramentas, para que não nos tornemos escravos de nossa arrogância ou alienados de seu potencial.

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