O Chuchu nosso de cada dia
Claudino Piletti
Há uma conhecida expressão segundo a qual certas mulheres dão mais que chuchu em cerca. Acho tal expressão de mau gosto e machista. Além disso, atualmente, ela não expressa a verdade. Digo-o não em função das citadas mulheres já não darem tanto – coisa que não sei -, mas pelo fato de ser tão séria nossa atual crise que nem mais chuchu em cerca está dando. Falo com conhecimento de causa, pois, meu pé de chuchu, que cobre toda a cerca, ultimamente só está dando folhas.
Pessoas mais avançadas em direção à “melhor idade”, devem se lembrar que, na década de 1970, o então ministro da fazenda Delfim Netto culpou o preço do chuchu pela alta da inflação. Nunca antes o humilde chuchu havia alcançado tal importância. De maneira geral ele tem sido, e ainda é, desprezado como alimento trivial e sem sabor que quase ninguém faz muita questão de comer. Por isso, não entendo porque se diz, de uma bela mulher, que é um “chuchu” e que todos querem comer. E, quando nos referimos a algo que é muito bom, não dizemos “chuchu beleza”? E, quando queremos dizer “muito, em grande quantidade”, não usamos a expressão “pra chuchu”?
Assim, se para muitos, o chuchu quase nada significa, a palavra que o indica tem diversos significados. Trata-se de um belo capricho da nossa linguagem, graças ao qual podemos dizer, com todo o respeito, que a Lú, esposa do governador Alckmin é um chuchu. Mas ele, segundo a oposição, é um picolé de chuchu. Para a situação, porém, ele é o picolé da chuchu Lú.
Com o mesmo respeito, podemos dizer que a Marcela, esposa do presidente Temer, também é um chuchu. Mas, segundo a oposição, ele é feio pra chuchu. Para a situação, porém, ele é um feio generoso pra chuchu.
Mulher, para continuar sendo um chuchu, não pode engordar. E, para tanto, precisa comer mais chuchu e menos pão. Por isso, além do pão de cada dia, ela deve pedir, em suas orações, o chuchu de cada dia.
É claro que ninguém deve alimentar-se só de chuchu. E nem só de pão. O ser humano necessita de outros alimentos. Inclusive, de beleza, pois, segundo o poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994), “nossos olhos também precisam de alimento”. Assim, quem não gostaria de ter, como candidata a presidente, a chuchu Gisele Bündchem? E, para o Legislativo, mais chuchu, isto é, mulher bonita? Nossos olhos, que já não aguentam alimentar-se só desses marmanjos feios e ladrões que infestam a televisão, agradeceriam. Se a beleza vier junto com a inteligência, melhor. E, se beleza e inteligência vierem junto com a honestidade, só nos restará exclamar: Chuchu beleza! Teremos, então, o chuchu nosso de cada dia.