O Chatovírus
Por Claudino Piletti
O chatovírus surgiu bem antes que o coronavírus. Talvez tenha surgido com a própria humanidade. E, desde então, só fez se expandir, seja na religião, na política, na educação, no esporte, na economia etc.
Os acometidos pelo chatovírus, isto é, os chatos, não usam máscara, não evitam aglomerações e pior, nem sabem que são chatos. E, justamente por serem chatos, produzem o efeito contrário do desejado por eles. Eis alguns exemplos:
O dramaturgo francês Sacha Guitry (1885-1957), em certa ocasião, confessou: “Eu não tinha fé. Era ateu. A fé me foi dada por alguns ateus chatos que conheci”. Um meu conhecido disse-me que nunca gostou do Bolsonaro, mas de tanto ouvir uns anti-bolsonaristas chatos, está quase virando Bolsonaro.
Chatos fazem estragos. Um professor chato, por exemplo, pode fazer com que alunos detestem a matéria que ensina, mesmo sendo ela interessante. Um torcedor chato, pode fazer com que detestemos o time dele, mesmo se tratando de um grande time. Um chato defensor da poupança, pode transformar-nos em inveterados gastadores.
Toda pessoa tem seu dia de chato. O problema é aquela que o é todos os dias e o dia todo e não sabe que é chata. Esta, inclusive, é capaz de nos fazer perder o dia em cinco minutos. Tudo porque não sabe ouvir por cinco segundos. Trata-se de uma incansável matraca.
Assim, não é à toa que o ator inglês Noel Coward (1899-1973) confessou: “Eu gosto de longas caminhadas, especialmente quando elas são feitas por pessoas que me chateiam”. E, nosso escritor Millôr Fernandes, observou: “Quando um chato diz: ‘Eu vou embora’, que presença de espírito!” Sem esquecer que é do escritor brasileiro Guilherme Fernandes o livro intitulado “Tratado geral dos chatos”.
Mas, chato, não é só brasileiro. É mundial. Só muda de nome… Em espanhol se chama “aburrido”, em italiano “noioso”, em francês “plat”, em alemão “flach”, em inglês “boring”, em japonês “mendokusai”… Acho que já estou sendo chato. Por isso, paro. “Que presença de espírito!”, exclamará você.