O Brasil pós eleição
Editorial
No próximo domingo acontece o segundo turno de uma das eleições mais conturbadas da nossa história democrática. Nunca houve tantos registros de intolerância política como no pleito atual. Já houveram mortes, relatos de agressões, insultos e outras queixas relacionadas a atitudes antidemocráticas de pessoas que, ao escolherem os seus candidatos, desrespeitam a opinião divergente. O tom agressivo que, principalmente eleitores de Jair Bolsonaro (PL), insultam os eleitores do candidato concorrente, lembra precedentes perigosos na história do mundo, trazendo uma insegurança quanto ao futuro da democracia brasileira.
Os debates têm causado divisões em famílias, desfeito amizades e comprometido ambientes de trabalho. Em pesquisa do Datafolha, divulgada no fim de setembro, ainda antes do primeiro turno, um dado chamou atenção: quase metade dos brasileiros diz ter deixado de falar com amigos ou familiares sobre política para evitar discussões nos últimos meses. O índice era de 46%. O fato é que os adjetivos usados por alguns para descrever os eleitores adversários (como burro, ignorante, ladrão etc), tem demonstrado que o eleitor brasileiro está levando a disputa eleitoral como uma torcida de futebol. Como já mencionamos neste espaço, pode haver motivos para votar em Bolsonaro ou Lula (PT), mas o certo é de que há motivos para não votar em nenhum deles. A decisão é individual e precisa ser respeitada.
A questão mais importante é de como estará o Brasil na próxima segunda-feira (31) quando teremos o resultado das urnas e conheceremos o presidente eleito? Independente do vencedor de domingo, o Brasil precisa é de paz. Nenhum país no mundo recebe investimentos externos e entra no caminho do desenvolvimento sem ter paz e respeito as autoridades constituídas. O ambiente de negócios é fortemente influenciado pela estabilidade institucional. Ou seja, a desconfiança das urnas, as ameaças aos poderes e a democracia são sinais muito ruins a emitir para as agências que avaliam os riscos de investimentos em um país. Definitivamente, o Brasil e os brasileiros precisam de paz, respeito e valorização a democracia.
Há pouco mais de 50 anos, narrativas semelhantes de ameaças a democracia, sob a alegação de combater o “comunismo”, deu início a ditadura militar no Brasil. Os tempos são outros, mas as retóricas são as mesmas – não dá para amenizar, portanto, o fato de que a nossa democracia está em risco. Quando um presidente de um partido político ofende com palavras de baixo calão uma ministra da Suprema Corte sob alegação de defesa a liberdade, é sinal de que estamos definhando nas conquistas que tanto suamos para outrora obtê-las. Mais grave, o sujeito enfrenta a polícia com granadas para conter a sua eminente prisão. Para afunilar ainda mais a aberração, recebe representantes do governo para “apaziguar” a confusão.
Diferente do exemplo de Roberto Jefferson, que o domingo seja em clima tranquilo e a segunda-feira de respeito ao resultado das urnas, afinal, como disse Winston Churchill, primeiro ministro do Reino Unido na década de 40, a democracia é pior sistema de governo, exceto todos os outros. É o que temos e precisamos conservar.
Uma boa leitura a todos e até a próxima edição.