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O Anel de Giges no Palanque:o que o debate revelou sobre os candidatos

Ana Cristina Piletti

O mito do Anel de Giges, narrado por Platão em A República, conta a história de um pastor que encontra um anel capaz de torná-lo invisível. Com esse poder, Giges se aproveita para cometer atos imorais sem temer punições, usando a invisibilidade para seus próprios interesses. A narrativa levanta a seguinte questão: as pessoas agem de forma ética por natureza ou apenas por medo das consequências?
Esse dilema foi trazido à tona durante o debate entre os candidatos à Prefeitura de Ibiúna, realizado na última quinta-feira, 26 de setembro. A pergunta que ficou no ar é: os candidatos farão, de fato, o que prometem ou seguirão outro caminho quando não houver olhos sobre eles?
Em determinado momento do debate, um dos candidatos utilizou um material público que, pelas regras do evento, era permitido, desde que não ofendesse a honra de outro candidato. A veracidade do conteúdo, é claro, seria responsabilidade de quem o utilizasse. O uso desse material gerou um conflito entre dois candidatos, e o Comitê de Ética foi acionado para resolver o impasse. Ambos os candidatos envolvidos, demonstrando respeito pelas regras, aceitaram a decisão do Comitê e seguiram com o debate de maneira exemplar.
De modo oposto, um incidente envolvendo os outros dois candidatos revelou um comportamento diferente. Um deles violou uma regra clara ao pedir votos diretamente ao público — algo expressamente proibido a todos os participantes. Ao notar a infração, a assessoria do outro candidato prontamente acionou o Comitê de Ética, que alertou sobre a penalidade de redução de tempo de fala caso a regra fosse desrespeitada novamente.
No entanto, no último bloco, já nos segundos finais, o mesmo candidato repetiu o pedido de votos diretamente para o público, acreditando que, naquele momento, já não poderia ser penalizado. Curiosamente, o candidato que havia reclamado dessa atitude também decidiu ignorar a regra, fazendo o mesmo pedido ao público.
Se, em um momento tão simbólico quanto um debate público, alguns candidatos escolhem ignorar as regras que eles mesmos aceitaram, o que podemos esperar quando estiverem sozinhos, longe dos olhos da população, tomando decisões que afetam uma cidade inteira?
Assim como no mito do Anel de Giges, em que o personagem revela sua verdadeira natureza ao se tornar invisível, as atitudes dos candidatos durante o debate nos levam a refletir sobre como agimos quando acreditamos que “ninguém está olhando”. No fim, vale questionar sobre o que fazemos — ou deixamos de fazer — quando não esperamos ser punidos. Afinal, pequenos gestos podem revelar muito sobre como lidamos com a ética e a responsabilidade em situações de poder.

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