Mulher morre em Ibiúna com suspeita de meningite; Justiça impede sepultamento para realização de exames
Érica Alves de Souza Fernandes, 34, moradora no bairro Laval 2, assistente em uma escola municipal de Cotia, morreu ontem (3), às 20h40, no Hospital Municipal de Ibiúna com duas hipóteses diagnósticas de causa morte apontadas pelo médico que a atendeu: septicemia/meningite. Ela veio a óbito menos de três horas após sua internação. A sogra de Érica, a advogada Eva Ramalho de Camargo, foi hoje (4) ao Ministério Público de Ibiúna pedir a abertura de inquérito para saber a causa da morte de sua nora.
Érica tinha problemas renais e já havia ido ao hospital duas vezes na semana passada. “Eles a atendiam, davam medicamento para estabilizar sua pressão arterial e a liberavam”, disse d. Eva. Ontem, ainda em Ibiúna, por volta das 12 horas, Érica tomou uma injeção do medicamento Ceftriaxona (antibiótico), de 1 g, que havia sido prescrito por um médico da Unimed São Roque na terça-feira, quando Érica passou por consulta.
Em seguida, foi levada a Sorocaba para realizar um exame nefrológico (dos rins). Na volta, sentiu-se mal em Piedade. Em uma farmácia tirou a pressão arterial que apontava 6 x 4 [o normal clássico é 12 x 8] funcionário sugeriu que ela fosse levada ao hospital local. “Ela foi levada à Santa Casa de Piedade, onde foi tratada de modo grosseiro. Uma enfermeira que a atendeu disse “ela está muito nervosa, mas eu vou aplicar um ‘sossega leão’ (provavelmente um diazepínico) nela”. E enfiou a agulha de modo displicente, segundo observou a mãe da vítima que a acompanhava. “Isso foi feito e não sabemos que mal pode ter feito”, afirmou Eva.
A descrição feita pela sogra de Érica quanto ao atendimento no Hospital de Ibiúna é assim narrado: “Ela [Érica], que tinha tido convulsões, foi vista por pelo menos cinco médicos, mas nenhum deles quis atestar a causa da morte. O dr. Djalma A. Romero Cardoso, condoído pelo sofrimento dos familiares, nos tratou de modo humano e solidário e nos forneceu um documento encaminhado à Delegacia de Polícia de Ibiúna solicitando providências para assegurar o diagnóstico sobre o motivo da morte.” A delegacia, no entanto, não registrou a ocorrência sob alegação de que Ibiúna não possui serviço de verificação de óbito.
Em razão desse fato, ela, em companhia de outra advogada da cidade, denunciou os fatos ao Ministério Público de Ibiúna, tendo até mesmo solicitado à promotora que era importante avisar as autoridades da saúde no município de Cotia. Motivo: se, espera-se que não, for confirmada a hipótese de meningite, as sessenta crianças da classe da Escola Municipal Mirante da Mata, onde Érica trabalhava como assistente, têm de ser protegidas.
Demonstrando cansaço e tristeza, d. Eva declarou à vitrine online: “As providências que estamos tomando, já que minha nora não pode mais voltar, deve servir para alertar as autoridades e a população para evitar os riscos a que estamos expostos, sem saber ainda de sua dimensão real.” Inconsolável, no velório, o marido de Érica não tinha condições de prestar informações. Aliás, por não ter havido uma confirmação precisa da causa morte, o caixão permaneceu aberto.
Ainda de acordo com d. Eva, foi talvez por “uma questão de humanidade que o dr. Djalma nos forneceu um atestado de óbito apontando como causa morte: septicemia,hipertensão arterial, parada cardíaca, sem o que seu corpo ficaria insepulto.
Suspeita médica
É a seguinte a íntegra do encaminhamento feito pelo cirurgião-geral, dr. Djalma A. Romero Cardoso, em papel timbrado da Secretaria da Saúde e utilizado no hospital municipal de Ibiúna:
“Ao Sr. Dr. Delegado de Polícia de Ibiúna. Solicito a abertura de um Boletim de Ocorrência para posteriores verificações de óbito (verificar a causa morte) da paciente Érica Alves de Souza Fernandes, 34 anos, que foi a óbito de modo súbito nessa unidade. HD (hipóteses diagnósticas): Septicemia/Meningite.” Segue-se seu carimbo com CRM e assinatura
Ministério Público
A promotora Camila Teixeira Pinho entrou em contato com o diretor do Hospital de Ibiúna, José Walter Dário, com o delegado titular da Delegacia de Ibiúna, dr. José de Arruda Madureira Jr. e autoridades de Sorocaba visando assegurar tanto o direito da família de saber a causa real da morte de Érica e também por preocupação com a saúde pública no município, já que se for confirmada meningite como causa da morte será preciso tomar medidas para proteger a população.Tanto a dra. Camila quanto a dra. Roberta Cassandra Moraes, promotora da área da saúde, estão atuando nesse caso.
Durante a tarde tiveram, devido à imperativa necessidade de esclarecer os fatos, tomaram a difícil decisão – pela primeira vez na história de Ibiúna – de, por meio de uma ação cautelar, impedir o sepultamento de Érica [o cortejo já havia chegado ao cemitério Alto da Figueira, quando a empresa funerária recebeu a determinação judicial], a fim de assegurar a realização de exames necroscópicos para confirmar de fato se a causa da morte foi meningite.
O diretor do Hospital Municipal de Ibiúna, José Walter Dário, informou à vitrine online que, tão logo recebeu a determinação, iniciou as providências para seu cumprimento. Declarou que o corpo de Érica, que foi devolvido ao hospital, seria levado hoje à noite ao Serviço de Verificação de Óbito, da Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba. Como esse serviço não funciona à noite, os exames especializados deverão ser feitos amanhã cedo, afirmou o diretor. Depois o corpo será entregue à família para que, finalmente, haja o sepultamento.
Os reflexos de todos esses acontecimentos surpreendentes abalaram ainda mais os familiares. “Vão fazer agora o que deveriam ter feito antes”, declarou a dra. Eva Ramalho de Camargo, sogra de Érica.
Médicos doentes
Dos quatro médicos que deveriam atender hoje no Posto de Saúde da avenida São Sebastião, apenas um deles compareceu ao trabalho. Os outros três, segundo informação transmitida à vitrine online, alegaram que estavam tendo vômitos e diarréias por terem contraído uma virose.
Fonte e Fotos: http://revistavitrineibiuna.com.br/