Movimentos Sociais na Era Digital
Em junho de 2013, o Brasil foi palco de inúmeros protestos. Inicialmente, os grupos de pressão reivindicavam a redução das tarifas do transporte público, mas logo passaram a contestar a corrupção política, a violência policial entre outros temas de descontentamento popular. A menos de um mês da Copa do Mundo, presenciamos novamente a mobilização social pelas ruas das grandes cidades brasileiras. O mote do movimento foi os altos gastos públicos para a realização do megaevento. Além dos atores mobilizados contra a Copa, também estavam grupos do movimento sem teto, de professores e outras categorias de profissionais que se mobilizam por melhores condições de trabalho e de vida. De acordo com o sociólogo espanhol Manuel Castells a degradação nas condições de vida (crise econômica) e a profunda desconfiança nas instituições políticas (crise política) são as principais causas desses movimentos. Outra característica essencial dos movimentos é a forma como se organizam: pelas redes sociais. Essas redes horizontais e interacionais de comunicação aproximam emocionalmente os indivíduos e colaboram para que estes superem o medo e desafiem o poder instituído. Assim, embora estes movimentos se iniciem na internet, eles acabam por ocupar o espaço urbano, ou seja, lugares simbólicos visados para atos de protestos. Desta forma, destacamos três principais tendências em relação aos movimentos sociais que devem fazer parte da agenda dos atuais e futuros governos: 1) São virais: o uso da internet e das diversas plataformas de comunicação inspira e conecta as pessoas por sentimentos comuns; 2) São horizontais e fugazes: não é possível identificar uma liderança e também se organizam e se dispersam de maneira rápida; 3) São movimentos de expressão e reconhecimento: ao mesmo tempo em que denunciam a forma como a democracia é praticada, expressam as necessidades de grupos minoritários e clamam pelo reconhecimento de suas particularidades. Enfim, fica a questão: qual é a profundidade das discussões dos grupos que se organizam em rede e quais são os espaços de diálogo que tem sido construído entre atores políticos e sociais? Se tais manifestações tendem a ser uma revolução em rede devemos lembrar que “a verdadeira revolução acontece quando mudam os papéis e não apenas os autores” como disse o escritor francês Gilbert Cesbron.
Ana Cristina Piletti