Manifestações pelo Brasil: Catarse Coletiva ou Revolução Democrática?
Desde o início de junho de 2013, as manifestações populares nos diversos estados e cidades brasileiras são destaques nas mídias nacionais e estrangeiras. Por todo país, jovens vão às ruas: “Troco futebol por saúde e educação”; “Feliciano, me cura”; “Queremos bilhete único”; “Fora máfia dos transportes”; “Importem políticos para melhorar a situação do Brasil”; “Reforma política já” entre outros dizeres de protesto. Para alguns, o povo brasileiro “acordou”. Para outros, é apenas um momento de catarse coletiva. Afinal, que movimento é esse? Estamos diante de uma revolução democrática ou apenas de uma manipulação disfarçada?
A corrupção, a precária situação da saúde, da educação e do transporte público, os estrondosos investimentos na construção e reformas de estádios para a Copa do Mundo, as propostas de emendas à constituição que restringem o poder de investigação de órgãos como o Ministério Público, a proposta do Projeto da cura gay e demais ações políticas que são alvo dos protestos, parecem ter passado despercebidas até então. A impressão é que, de repente, o “povo” acordou. Porém, quem é o povo? Quando e quem começou este movimento? As redes sociais, apontadas como ferramentas articuladoras do movimento tornaram-se sinônimos de espaço de liberdade e poder de expressão. No entanto, como qualquer ferramenta de comunicação, há sempre líderes e formadores de opinião que reforçam a participação daqueles que compartilham deste espaço. Quantas pessoas que “curtem”, “reproduzem” os discursos da rede ou participam dos movimentos nas ruas do Brasil conhecem a história e as causas da situação atual política do Brasil? Quantas, dessas pessoas, em suas cidades, se organizam e participam das sessões do legislativo? Ou, quando insatisfeitos com o poder executivo local, realizam tais manifestações em sua comunidade? Será que, no dia a dia, há uma fiscalização cidadã sobre o que as instituições políticas realizam? Neste sentido, uma movimentação nacional, poderá trazer uma reforma política que beneficiará a todos em âmbito federal, estadual e municipal? O que sabemos e quanto e como somos informados sobre os gastos e investimentos públicos?
Em volta a tantas questões, é possível que, para alguns críticos o movimento seja mais uma catarse coletiva, um momento de purificação da alma, de descarga emocional dos brasileiros contra tudo e todos que fazem parte da política brasileira. Neste sentido, os atores engajados são apoiados por uma grande massa que vê na manifestação um evento da moda. Como toda revolução ou mudança política, não é o povo quem assume o poder, mas aqueles que sabem promover a união do povo para chegar ao poder.
Se a afirmação popular de que “quando as pessoas não querem fazer nada, elas se reúnem” for válida, as perspectivas para este movimento são pessimistas. Afinal, poucos continuarão fazendo algo, positivo ou negativo, para muitos continuarem apenas reclamando. O político e empresário americano Ross Perot disse “Ativista não é o homem que diz que o rio está sujo. Ativista é homem que limpa o rio”. Nesta perspectiva, os resultados serão benéficos e as perspectivas otimistas se todos que se propõem a reclamar e a contestar também começarem a agir elaborando propostas e fazendo seu “dever de casa” em sua comunidade, ou seja, limpando o rio da política de sua aldeia.
Ana Cristina Piletti