Editorial

Ibiúna, 157 anos de muita luta

Por ser uma cidade muito próxima da capital paulista, uma das grandes metrópoles do mundo, Ibiúna não pode ser considerada aquela típica cidade de interior. Próxima de integrar a região metropolitana de Sorocaba, Ibiúna também está distante desta grande potência regional (os principais veículos de comunicação da região cobrem até os limites de nosso município, por exemplo), dificultando esta relação. A verdade é que, às vésperas de completar 157 anos, Ibiúna é uma cidade deslocada e sem identidade. É sustentada, entretanto, graças à luta de seu povo.

Ibiúna é uma terra agrícola. Mas, ao contrário de outras regiões que têm a agricultura como fonte de desenvolvimento econômico, não buscou a agroindustrialização, que é responsável por aumentar o valor agregado da produção. Isso tem como explicação alguns fatores: falta de planejamento do setor pelo poder público ao longo das últimas décadas; descompromisso da população rural com a continuidade dos negócios agrícolas da família (sim, porque assistindo a grande mídia da capital todos os dias, o ideal do jovem jamais será ficar na roça, mas sim procurar os grandes centros); e a falta de instituições de qualificação técnica ou de ensino superior para promover a educação de empreendedores do campo.

Com isso, o caminho natural da agricultura familiar acaba sendo a perda de espaço para a especulação imobiliária, setor que faz jorrar rios de dinheiro no município. Mas traz o perigo notável da exploração predatória, que fará com que, em breve, o cenário verde que nos dá a paz dará lugar a conjuntos residenciais, ora planejados, ora não. E os moradores que aqui se instalarão perderão, com o tempo, o motivo que os trouxeram para cá: o convívio em harmonia com a paz, o verde, a terra, o ar, a água. Água que está ameaçada, segundo estampam as manchetes dos jornais da região aos quais o ibiunense não tem acesso. Água, inclusive, que, mesmo com qualidade afetada, está cada vez mais restrita aos condomínios de luxo que, lá atrás e hoje, continuam conseguindo acordo com o poder público para restringir o acesso de pessoas (como é sabido, em alguns locais é possível entrar apenas se o veículo possuir placa de Ibiúna).

Mas e o turismo? O turismo era a esperança. Poderia trazer desenvolvimento sustentável, a ocupação planejada, a conscientização da população, o desenvolvimento econômico. Poderia. Pois, por muito tempo, foi utilizado como fonte de recursos para tapar buraco ocasionado pela falta de planejamento. Isso para ser bonzinho, sem acusar gestores públicos de desviarem recursos e enriquecerem ilicitamente.

Mas ainda há luz no fim do túnel. Há uma nova sociedade que pensa em tudo isso e trabalha para que Ibiúna saia deste estado de inércia a que foi submetido por anos e anos. E alguns exemplares desta nova mente estão dentro, inclusive, do poder público. Mas para que eles obtenham êxito, é preciso que todos sejam contaminados por estas pessoas de bem. Ou se moldam como o novo ibiunense, ou dão lugar para outros que sabem que Ibiúna precisa de uma verdadeira revolução cultural, social e econômica.

Parabéns Ibiúna e até a próxima edição!

 

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