Há malas que vem para o bem
Claudino Piletti
Há malas que vem para o mal. São aquelas que rolam por aí, clandestinamente, com dinheiro roubado, propinas, muamba, drogas, etc. Às vezes, uma dessas malas é descoberta e, seus donos, presos. Exemplo disso tem sido, recentemente, a mala com 500 mil reais de propina transportada por sua excelência o deputado Rodrigo Rocha Lores. Dizem que o dinheiro era para o presidente Temer. Compete à justiça dar um jeito de verificar.
Mas, no país do “jeitinho”, até a justiça tem certa dificuldade de dar esse jeito. Os nossos corruptos é que deram um jeito de criar nova técnica – ou será arte? – de colocar dinheiro da propina numa mala. O empresário Adir Assad, suspeito de ter pago 1,7 bilhões em propina, explicou: “A gente não colocava mais de R$ 150, 170 mil por mala. Fazia tipo uma lasanha, colocava uma fiada de roupa, uma de dinheiro aí ia tudo para o avião” (Folha de S.Paulo, 13/08/2017). Assim, só para esse “pequeno” roubo, rolavam por aí umas 10 malas. Quantas terão rolado com os muitos bilhões roubados?
Com tanta mala desviando o dinheiro dos nossos impostos, sem contar as malas sem alça que elegemos e, agora, temos que carregar, tendemos a ser pessimistas em relação ao nosso país. Mas, em meio a tanta mala que vem para o mal, eis que surgem as que vem para o bem. Há, entre outras, aquela do denominado “homem da mala azul.” Trata-se do educador Maurício Leite, de 63 anos, nascido no Pantanal, no Mato Grosso, que há quase 40 anos leva livros para crianças de comunidades longínquas, áreas rurais e aldeias indígenas nas Américas e África. Mostrando uma mala azul de madeira, decorada com adesivos de países pelos quais já passou e recheada de livros, ele afirmou: “Hoje, já perdi a conta de quantas malas espalhei pelo mundo. Elas estão em todos os países de língua portuguesa. Na minha última viagem à África, levei 40 malas com 2400 livros. (Folha de S.Paulo, 18/05/2017). Explicou que monta cada mala pensando em quem vai ler as histórias. E, confessou: “Um brilho no olho de uma criança com um livro toca o meu coração e faz ver que todo o caminho, desde a primeira mala, valeu a pena.” (Idem)
Mas, o que toca o coração da maioria dos nossos políticos, não é o brilho no olho de uma criança com um livro. São, antes, malas com dinheiro. Se, como disse o escritor Monteiro Lobato (1882-1948), “um país se faz com homens e livros”, é urgente que haja menos malas com dinheiro roubado e mais com livros.