Governo brasileiro pede desculpas por perseguir japoneses durante 2ª Guerra
A Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania reconheceu, em julho, a repressão e perseguição política sofrida por imigrantes japoneses na década de 1940, e pediu desculpas em nome do Estado brasileiro.
Conselheiros aprovaram por unanimidade pedido de reparação coletiva à comunidade japonesa no Brasil e seus descendentes.
Japoneses sofreram censura, restrições de movimento e de associação e prisões arbitrárias durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945) e no governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951). Medidas se intensificaram após Brasil declarar apoio aos Aliados na Segunda Guerra Mundial, em 1942. Imigrantes de países do Eixo — bloco adversário formado por Alemanha, Itália e Japão — tiveram rádios, livros e documentos confiscados, precisavam de autorização para viajar dentro do país e não podiam formar associações.
Para o ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha, a decisão reconhece o papel da comunidade japonesa para a construção do Brasil como é hoje. “O veredito dessas comissões tem um papel fundamental de dizer que nunca mais pode se repetir — no Brasil e no mundo — os episódios que são julgados aqui”.
Perseguição após a guerra
Restrições sofridas pelos japoneses teriam contribuído para a formação da Shindo-Renmei (“Liga do Caminho dos Súditos”, em português), organização de imigrantes japoneses que não acreditavam na derrota do Japão ao fim da guerra. Um grupo dentro da Shindo-Renmei matou compatriotas que sabiam da verdade, chamados de “derrotistas”. Segundo a investigação da época, 24 pessoas foram assassinadas entre 1946 e 1947. O governo brasileiro interveio na disputa, e indiciou 390 pessoas por envolvimento com a organização.
Para discernir quem era da Shindo-Renmei, o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) teria obrigado os imigrantes a fazerem demonstrações anti-patrióticas. As ações envolviam pisar na bandeira do Japão ou no retrato do imperador.
Suspeitos de integrar a organização, 171 japoneses foram levados para um presídio de presos políticos na Ilha Anchieta, litoral norte de São Paulo, onde sofreram maus-tratos e tortura. Uma das histórias que compõem o requerimento de reparação coletiva é a de Fukuo Ikeda, que tinha 20 anos quando foi preso. “Não fez nada. Era inocente. Prenderam e, depois, levaram ele para a Ilha de Anchieta – apanhou muito. Já tinha a saúde ruim e foi torturado. Morreu moço, pelo que sofreu na ilha”, disse Terezinha Fukuoka, em depoimento.
Com informações do Portal UOL