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Futebol: ascensão de técnicos e queda de jogadores

Glória Piletti

Eu torço muito para estar errada, mas acho que a nossa seleção brasileira, com este tipo de técnico e de filosofia, não terá outra vez a mínima chance numa próxima Copa. Os técnicos, uma vez, tinham psicólogos na seleção. Agora não acham necessidade desse profissional na equipe que forma a Comissão Técnica. Isso já é um sinal de que o sistema pelo qual ele foi escolhido privilegia uma pessoa só: o técnico. E a primeira função desse técnico é responder, já desde a convocação dos jogadores, às necessidades políticas de quem os colocou ali. Ele tem todo o poder, não para fazer um trabalho profissional, mas para satisfazer os interesses de um sistema político. Todas as vezes que eles colocaram na chefia da seleção um técnico que não deixava o grupo de jogadores assumir a sua liderança e autonomia, o Brasil perdeu, e perdeu em jogos decisivos. Como aqueles contra a Argentina e contra a Itália. Numa seleção onde o técnico é um preposto, um disciplinador, a única função do psicólogo seria a de subverter para que o grupo assuma a liderança. Subverter para resistir (o que numa família às vezes também é preciso). E o pior disciplinador não é aquele que grita. Pode ser flexível. Aquele técnico que organiza uma seleção de futebol com jogadores reconhecidos, mas que na véspera do jogo, presencia ou se envolve numa briga de dirigentes, jogadores e jornalistas, tem mais chances de perder um jogo. Isso mostra que a violência simbólica e física é prejudicial para o desempenho de um time. Não sou a favor da violência, mas é preciso distinguir entre a violência do incompetente que impede que os outros joguem e a violência pela qual passa o jogador criativo impedido de exercer o seu talento.  Essa tem que ser respeitada. Caso contrário, nossos jogadores são rapidamente exportados, assim como os demais talentos brasileiros. O sistema político de uma seleção é que condiciona os jogadores a reproduzir um discurso instituído. Com pouquíssimas exceções, eles sabem que criticar o treinador ou questionar a atuação de um dirigente pode significar, no mínimo, uma multa salarial – que os tribunais esportivos consideram legal – e, no máximo, a desgraça que se reflete na hora de renovar o contrato. Desunidos e sem consciência de classe, os jogadores ocultam em tais clichês personalidades ricas e contraditórias como as de qualquer ser humano.

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