Fome: uma triste e contínua realidade
Ana Cristina Piletti
No mês passado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançou um alerta sobre o risco de 1,4 milhão de crianças morrerem de fome este ano em quatro países: Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão do Sul (ONUBR, 22/02/2017). Isto significa que aproximadamente 3.900 crianças morrerão de fome por dia, ou seja, três crianças por minuto. Por outro lado, só na América Latina, por exemplo, são desperdiçados até 348 mil toneladas de alimentos por dia (ONUBR, 01/04/2016), ou seja, com menos de 1% destes alimentos seria possível resolver o problema da fome nestes países da África. Mas, por que esta lógica não funciona? Mesmo com os esforços humanitários das agências especializadas da Organização das Nações Unidas (ONU) e da comunidade internacional será um grande desafio cumprir a meta de erradicar a fome de forma sustentável até 2030. Para José Graziano, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a principal causa desse problema é a falta de acesso ao alimento, ou seja, pessoas que não têm dinheiro para produzir ou comprar comida. Em muitos países da África, como os mencionados acima, a seca, a pobreza e os conflitos armados tornam ainda mais drástica à situação. Além de recursos financeiros e um conjunto de voluntários dispostos a deslocarem-se para estas regiões, as agências internacionais precisam de mobilização política para permitir que a ajuda humanitária chegue às áreas afetadas pela fome. José Graziano ainda destaca que é necessário associar políticas de proteção social às políticas de produtividade agrícola. Além de programas de combate à pobreza extrema, os governos devem capacitar famílias rurais para lidarem com problemas tais como as secas e as inundações (Época Negócios, 05/05/2015). Neste sentido, os debates sobre o uso adequado da terra e a otimização dos recursos naturais entram em pauta com o objetivo de viabilizar uma agricultura mais eficiente e sustentável. Isto significa produzir de modo a evitar o desperdício de alimentos, diminuir o impacto ambiental da lavoura e aumentar a viabilidade econômica da produção. Enfim, a fome não é algo natural, pelo contrário, é uma tragédia histórica que continua mesmo com o desenvolvimento econômico e tecnológico dos nossos tempos. Já dizia o escritor brasileiro José Lins do Rego que “o pior não é morrer de fome em um deserto: é não ter o que comer na Terra Prometida”.