Em 11º Congresso da UEE-SP, Estado concede anistia aos estudantes presos em Ibiúna em 1968
Comissão de Anistia realizou ato de reparação coletiva e homenagem aos estudantes presos pela ditadura militar
A longa espera chegou ao fim. Na manhã do último sábado (15/6), a cidade de Ibiúna, interior de São Paulo, foi palco de um dos momentos mais aguardados pelo movimento estudantil há 45 anos. A Comissão de Anistia, presidida pelo secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, realizou na cidade, durante o 11º Congresso da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), ato de reparação coletiva e homenagem os 720 estudantes presos pela ditadura militar no município em 1968, durante o 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Para acompanhar a cerimônia, a Caravana da Anistia e a UEE-SP convidaram para o evento os estudantes da geração de 68 presos na ocasião. Entre os que prestigiaram o encontro estavam nomes como Franklin Martins, José Genoino, Augusto César Petta, Paulo Vannucchi, Reinaldo Morano Filho, Leopoldo Paulino, Marília Carvalho Guimarães, Liége Rocha, Dalmo Ribas, entre outros.
Ao abrir a cerimônia, o presidente da UEE-SP, Alexandre Cherno Silva, falou sobre a importância da geração de 68 para o movimento estudantil brasileiro. “Essa geração nos inspira no nosso dia a dia. Esses heróis conseguiram imprimir na identidade do movimento estudantil algumas características que são próprias da juventude como, por exemplo, combatividade e patriotismo”, disse o presidente da UEE-SP.
Ele também defendeu o dever do movimento estudantil em contribuir com o desenvolvimento do país. “O movimento estudantil desse momento democrático tem o papel estratégico de contribuir nas ações do Estado, auxiliando em toda e qualquer discussão que objetive o desenvolvimento do país”, acrescentou Alexandre Cherno.
Responsável no evento por conduzir o ato de reparação coletiva e o julgamento de dois processos de anistia, Paulo Abrão explicou que o trabalho da Comissão de Anistia está possibilitando a reconstrução da memória e da verdade, fundamental para o aprofundamento da democracia. “Estamos resgatando a história do protagonismo da juventude, da resistência à ditadura militar”, disse Paulo Abrão.
Sobre os estudantes presos em Ibiúna em 1968, o presidente da Comissão de Anistia emocionou o público presente ao se reportar aos representantes dessa geração: “Ao se engajarem na luta política contra o regime, vocês fizeram a opção de deixar suas vidas pessoais de lado para lutar por seus ideais. Hoje voltamos a 1968 não apenas para lembrar e apresentar a essa nova geração o que foi feito lá atrás, mas para que momentos como aquele não retornem jamais”, destacou.
Anistia
Além do ato de reparação coletiva – que contou com o pedido oficial de desculpas do governo brasileiro pela opressão e tortura cometidas pela ditadura militar, a Comissão de Anistia realizou durante o evento o julgamento de dois processos de anistia que estavam em tramitação no Ministério da Justiça. A aceleração desses processos foi uma conquista da “Comissão da Verdade Alexandre Vannucchi Leme”, instalada pela UEE-SP no último mês de abril para apurar crimes cometidos contra estudantes durante os anos da ditadura militar.
Representando a anistia dos estudantes presos durante o 30º Congresso da UNE, foram julgados durante a cerimônia os processos de Etelvino José Bechara e Gonzalo Pastor Barreda, dois dos 720 estudantes detidos em Ibiúna em 1968.
Com um discurso emocionado, Bechara, professor titular do Instituto de Química da USP, falou sobre o que representou o evento. “É um resgate à memória dos nossos colegas que foram mortos e perseguidos durante a ditadura, e ao mesmo tempo, traz uma mensagem para a geração mais jovem, no sentido de manter-se alerta sobre qualquer movimento dos governos com autoritarismo, repressão, restrição à liberdade de imprensa e outros atos que no passado aconteceram e causaram muito atraso aos brasileiros”, salientou o anistiado.
Questionado se todo esforço de luta foi válido, o ex-estudante pontuou: “Valeu muito a pena. Eu faria tudo de novo, arriscaria minha vida e incentivaria a todos a lutaram pela liberdade”, enfatizou Bechara.
O julgamento do processo de Gonzalo Pastor Barreda também foi concluído com a concessão da anistia. Peruano e ex-estudante da Escola Politécnica da USP, ele fez questão de destacar sua paixão pelo País. “Aproveito a oportunidade deste evento para tornar público a minha profunda gratidão pelo acolhimento que tive, pois o Brasil é minha pátria de coração”.
Também participaram do evento o prefeito de Ibiúna, Eduardo Domingues Neto, a presidenta da UNE, Vic Barros, além de vários dirigentes e ex-dirigentes de entidades estudantis.
Thatiana Miloso – Assessora de Imprensa UEE-SP
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