Educação: ponte ou muro para a inclusão racial?
Ana Cristina Pilleti
A desigualdade racial na educação brasileira é um problema que afeta a vida de milhões de crianças e jovens no país. Um estudo conduzido pelo Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa – publicado em 21 de junho de 2023, revelou que apesar da melhoria nos indicadores de aprendizado na Educação Básica nos últimos anos, as disparidades entre o desempenho dos alunos negros e brancos têm se agravado.
Ao analisar os resultados dos testes de Português e Matemática do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), no período entre 2007 e 2019, o estudo demonstrou que as notas dos alunos aumentaram, contudo, esse crescimento foi maior para estudantes brancos. Além disso, as mulheres brancas e negras apresentaram maiores notas no exame de Português, enquanto homens e mulheres brancas notas maiores na avaliação de Matemática. No mais, nos estados mais ao Sul do país, estudantes brancos aparecem com notas maiores do que alunos negros.
Essas diferenças são reflexos das desigualdades sociais e da discriminação racial que ainda permeia a sociedade brasileira. Além do legado de exclusão deixado pela escravidão, pesquisadores apontam as desigualdades estruturais, inclusive dos sistemas educacionais, que acabam por reproduzir tais disparidades. Ou seja, como um círculo vicioso, crianças e jovens que carecem de maior atenção pedagógica são aqueles que enfrentam maior dificuldade de acesso, perma-nência e suporte educacional. A perpetuação de estereótipos e as baixas expectativas de alunos e professores em relação ao “sucesso do improvável” agravam o abismo social.
O mencionado estudo também destaca que a pandemia da Covid-19 piorou o cenário, tendo em vista que seu efeito escolar foi mais severo entre a população economicamente mais vulnerável, que não possui condições de arcar com os custos da tecnologia necessária para o ensino virtual.
Enfim, as políticas públicas voltadas para a inclusão racial no ambiente escolar ainda precisam avançar para promover uma educação equitativa entre brancos e negros. Ações afirmativas como políticas de cotas devem ser acompanhadas de formação docente, atualizações curriculares e estratégias pedagógicas que garantam que nenhum aluno fique para trás. No mais, é necessário a articulação dos sistemas educacionais com o mundo da política e do trabalho. Caso contrário, em vez de ponte para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, a educação servirá de alicerce para os históricos muros da exclusão.