Colunistas

Ecos da Ditadura

Claudino Piletti

Ecos da ditadura surgem, às vezes, aos ouvidos daqueles que, de uma forma ou de outra, a sofreram. É o que ocorre comigo, atualmente, sobretudo quando ouço ou leio notícias que dão conta da situação de crise que o país atravessa. A frase que mais ecoa em meu ouvido, então, é a seguinte: “Ninguém segura este país”. E, ao reclamar da situação, ouço: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Logo, porém, ouço a voz do presidente Figueiredo dizendo: “Lugar de brasileiro, é o Brasil”. E decido ficar.Diante da atual situação, é uma boa lembrar da letra da música de Chico Buarque: “Apesar de você/ Amanhã há de ser/ outro dia”. Mas, agora, que o outro dia chegou, descubro que, se aquele da ditadura não era o dia que queriamos, o atual também não é. É claro que o atual, por ser de democracia, é bem melhor do que o da ditadura. Apesar da corrupção, da crise política e econômica, temos a liberdade de falar e escrever. E, o mais importante, os corruptos estão sendo julgados. Nem todas, é verdade. Mas, amanhã há de ser outro dia.No tempo da ditadura, Francisco Julião, ex-líder das Ligas Camponesas, preocupado que o presidente Figueiredo soltasse as rédeas da abertura, afirmou: “O povo não pode deixar que o Figueiredo caia do cavalo”. Hoje, como a presidente Dilma não anda a cavalo, mas de bicicleta, talvez seja o caso de afirmar: “O povo não pode deixar que a Dilma caia da bicicleta”. Mesmo sendo boa de pedalada, ou por isso mesmo, comenta-se que ela pode cair. Caso contrário, a presidente terá um longo e difícil caminho pela frente. Um caminho que está mais para corrida com obstáculos do que um tranquilo passeio de bicicleta numa ensolarada manhã de domingo.Assim, há muita incerteza… A única coisa certa é que, seja na ditadura ou na democracia, disse-nos o filósofo espanhol Ortega y Gasset (1883 – 1955), “jamais alguém mandou na terra, alimentando seu poder essencialmente com outra coisa que não fosse a opinião pública”. A  depender da opinião pública, o poder da presidente custa a se manter de pé. E, muito menos, a pedalar.

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