De desempregados desesperados para empreendedores despreparados?
Ana Piletti
Vivemos no Brasil um momento de crise, ou seja, de mudanças. No âmbito econômico, o anúncio do governo federal sobre o corte de quase R$ 70 bilhões em gastos no orçamento de 2015 trouxe previsões pessimistas para a sociedade brasileira. Estima-se, com isso, uma contração de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 – o pior resultado em 25 anos, caso seja confirmado. Em tempo, o projeto de lei sobre terceirização foi aprovado na Câmara dos Deputados, o que aumentou a insegurança dos brasileiros em relação ao emprego e condições de trabalho. Não é por menos, dado que o índice de desemprego alcançou 8% no final de abril, isto é, quase 1% a mais do mesmo período do ano passado. Neste cenário, alguns especialistas e trabalhadores desempregados (com capital disponível para investimento) acreditam no empreendedorismo como forma de superar a crise. Segundo Lucia Dornelas, presidente da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas (Aderes) capixaba, “a crise econômica é benéfica ao surgimento e fortalecimento das micro e pequenas empresas, pois quando o mercado de trabalho oscila é que as pessoas se encorajam para se lançar ao empreendedorismo”. De fato, na crise “enquanto alguns choram, outros vendem lenços”. Porém, para isso mais do que vontade, condições financeiras, habilidades e atitudes para empreender, é necessário conhecimento e planejamento para abrir um novo negócio. Inovar, por exemplo, é a capacidade de identificar uma oportunidade de mercado e de negócio e desenvolver soluções para atender a uma necessidade ou demanda reprimida. Isto, no entanto, não é tão simples. Para amenizar os riscos, alguns especialistas sugerem investir no sistema de franquias. Para o reitor da IE Business School de Madri, Santiago Iñiguez de Onzono, para empreender é necessário saber lidar com o risco, ter determinação e resiliência. Também são necessários conhecimentos de planejamento, gestão e liderança. Enfim, não podemos deixar que o desespero de estar desempregado faça de nós um empreendedor despreparado. Mas, também não podemos deixar que a frustração do desemprego nos paralise diante das possíveis oportunidades deste momento de crise.