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Com quantos parafusos se faz uma geringonça?

Claudino Piletti

“Geringonça” é uma coisa mal segura e que ameaça desconjuntar-se. Esse é, também, o nome que os portugueses deram à estrutura política de seu país: um governo minoritário do PS (Partido Socialista) que se mantém graças ao apoio do Bloco da Esquerda, do PCP (Partido Comunista Português) e dos Verdes.
Trata-se de uma experiência inédita no país, que parece seguir outro caminho daquele de uma Europa onde a direita cresce. E, por incrível que possa parecer, a geringonça funciona, pois, Portugal cresce economicamente e em qualidade de vida. Tanto que muitos brasileiros se mudaram ou pretendem se mudar para lá. O mesmo fez alguns famosos do mundo, como a cantora Madonna.
Enquanto isso, no Brasil, nos últimos 12 anos, só andamos para trás. E dizer que o território do nosso país (8.511.965 Km²) é quase cem vezes maior que o de Portugal (92.080 Km²). Onde foi que erramos?
Erramos sobretudo na escolha de nossos políticos. Escolhemos um bando deles totalmente desprovidos de parafusos, ou seja, amalucados, sem juízo e mentalmente desequilibrados. Tanto que muitos estão na cadeia e, muitos outros, deveriam estar. Até merenda de crianças roubaram. Se foram capazes disso, imagina o resto.
Aliás, o resto, nem é preciso imaginar, pois, é visto diariamente na imprensa e sentido na pele e no bolso pela população. Tantos malfeitos eles praticaram que, hoje, muitos têm vergonha de se dizerem políticos. A propósito, lembro da história daquele sujeito que pediu ao amigo: “Não conte à mamãe que entrei para a política. Ela pensa que eu toco piano naquele puteiro”.
Políticos sem parafusos são incapazes até de fazer uma simples geringonça que funcione. Para fazê-la seriam necessários alguns parafusos. Cito três que, coincidentemente, começam com a letra D: discernimento, desprendimento e diálogo.
O discernimento consiste na capacidade de distinguir o certo do errado, o público do privado, o falso do verdadeiro, etc. Tal capacidade parece coisa rara entre nossos políticos. Mais rara que as pérolas e diamantes que muitos deles devem possuir.
O desprendimento, ou seja, a capacidade de libertar-se dos próprios interesses em benefício do bem comum, é, segundo alguns filósofos, a melhor virtude. Há, inclusive, os que a colocam acima da humildade e, até, do amor.
O diálogo consiste em falar com outra pessoa, trocando ideias com ela. Hoje, a palavra diálogo, está sujeita a desaparecer dos nossos dicionários, pois, parece que cada um se contenta em falar consigo mesmo e de ficar girando em volta de seu próprio umbigo.
Discernimento, desprendimento e diálogo: sem esses parafusos não haverá geringonça. Acreditar no contrário, é acreditar em Papai Noel. Prefiro acreditar no poeta Jorge de Lima, que escreveu: “Feliz de quem, quando o ano termina/ pode ver a estrela no céu /e tem olhos ainda/ para encontrar Jesus”. Que, por sinal, nasceu numa geringonça. Ou, numa manjedoura… O que dá quase na mesma.

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