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Amazônia em chamas: de quem é a culpa?


Foto: Rodrigo Baleia para o Greenpeace

Ana Piletti

As queimadas na Amazônia tornaram-se notícias na mídia do mundo inteiro, ocasionando uma das piores crises diplomáticas dos primeiros oito meses governo atual.
O jornal britânico The Guardian destacou que o presidente Jair Bolsonaro acusou ONGs pelos incêndios, sem nenhuma comprovação. O The New York Times noticiou o aumento do desmatamento na região após o início do governo Bolsonaro, indicando os grandes fazendeiros como responsáveis pelo desmatamento. O jornal francês Le Monde trouxe entrevista com um ambientalista que explicou que uma seca intensa agravou os incêndios, contudo as ações do governo amplificaram o problema ao enfraquecer instituições ambientais e afirmar que a Amazônia é improdutiva. Outros jornais, como o francês Liberatión, trouxe a manchete “Bolsonaro: câncer do pulmão Verde” e o italiano La Reppublica estampou na capa: “O mundo contra Bolsonaro”. (G1, 22/08/2019; EXAME, 22/08/2019).
Embora ainda não se possa apontar os responsáveis diretos pelos incêndios, é fato que indiretamente a responsabilidade seja atribuída ao Poder Público, em especial, ao Governo Federal, que tem o dever constitucional de proteger a Floresta Amazônica. Além de ser a maior floresta tropical do mundo, a região abriga a maior biodiversidade do planeta, além de contribuir para equilibrar o clima global e preservar a diversidade cultural, abrigando etnias e povos ainda não contatados (O GLOBO, 25/08/2019).
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), relevaram um aumento de 83% nas queimadas na região entre janeiro e agosto deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda que se defenda a soberania nacional em relação a Amazônia, é possível compreender a preocupação da comunidade internacional com a preservação desta área. Aliás, qualquer pessoa ou nação preocupada com a sobrevivência e o bem-estar das futuras gerações deveria estar atento a esta questão.
Contudo, o presidente Jair Bolsonaro menosprezou os dados científicos, indignou-se com a transparência das informações divulgadas pelo INPE e, simplesmente, exonerou o diretor do instituto, um cientista com quase 50 anos de carreira dentro da instituição. O descaso sobre a importância da Amazônia para o meio ambiente somado ao ataque infundado aos ambientalistas e declarado apoio a bancada ruralista e ao agronegócio agravaram a crise. De acordo com pesquisa Datafolha (01/09/2019), 51% dos brasileiros avaliam como ruim e ou péssima a gestão de Jair Bolsonaro no combate ao desmatamento e queimadas da Amazônia
Além disso, a inabilidade política para dialogar de forma madura e diplomática com líderes de outras nações, a exemplo do duelo de insultos dirigidos ao presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa, alastrou o fogo para esfera econômica e política internacional. Em vez de ocupar-se em reunir esforços para apagar as chamas, as ações do governo parecem estar colocando mais lenha na fogueira.

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