A relva e o bonsai
Ao abdicar da cadeira de senadora para concorrer à Presidência, em 2010, Marina Silva afirmou: “Às vezes é preferível ser uma relva no campo do que um bonsai no palácio.” (Folha de S.Paulo, 23/02/2010).
Bonsai é uma árvore anã cultivada em vaso e obtida pela atrofia das raízes ligadura dos ramos. Um produto de laboratório, portanto.
Na política, há o político-relva – aquele que não quer se perpetuar no poder – e o político-bonsai – aquele que entra e nunca sai. É claro que, a maioria dos nossos políticos, tende a ser bonsai. No caso da presidente Dilma, eu me pergunto: Terá escolhido ser relva ou bonsai? Acho que, pelo fato de querer se reeleger a qualquer custo, está mais para bonsai. A Marina, por sua vez, que já declarou que, se eleita, não deseja reeleição, está mais para relva.
É claro que, como assídua leitora da Bíblia, a Marina só podia escolher ser uma relva do campo. O Livro Sagrado fala inúmeras vezes da relva e, nenhuma, do bonsai. O salmo 90, por exemplo, nos diz: ”Eles (os seres humanos) são como a relva que brota de manhã: de manhã ela germina e brota, de tarde ela murcha e seca.” (Sl 90,5-6)
E o salmo 103, volta ao tema: “O homem!… seus dias são como a relva: ele floresce como a flor do campo; roça-lhe um vento e já desaparece, e ninguém mais reconhece o seu lugar.” (Sl 103,15-16)
A Dilma, no entanto, assídua leitora da cartilha do partido ao qual pertence, só podia ser bonsai. Por isso, afirmou: “Meu partido me confere a honrosa tarefa de dar continuidade à magnífica obra de um grande brasileiro. A obra de um líder, meu líder, de quem muito me orgulho.” (Folha de S.Paulo,22/02/2010). Palavra de bonsai!
De acordo com esse grande brasileiro e líder, “a Dilma tem a cara e a alma de São Paulo.” (Folha de S.Paulo, 13/03/2010). Eu já acho que ela tem mais cara e alma de bonsai. Nem a Marina tem cara e alma de São Paulo, mas de relva.
Não estou fazendo juízo de valor e nem sugerindo que votem nesta ou naquela, mas, apenas analisando. E, também, não estou declarando meu voto. Aliás, minhas convicções políticas são como a relva: de manhã germinam e brotam, de tarde murcham e secam. É que as convicções éticas da maioria de nossos políticos também são como a relva: quando candidatos, germinam e brotam, mas, quando eleitos e no poder, murcham e secam.
Claudino Piletti