A era das fake news: será preciso desconfiar de tudo e de todos?
Ana Pilleti
A produção e o compartilhamento das fake news ou notícias falsas é um fenômeno da sociedade atual, impulsionado pelo uso das novas tecnologias de comunicação. Em estudo recente, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) descobriram que as informações falsas alcançam muito mais pessoas e têm 70% mais chances de se alastrar do que as verdadeiras. E, quando a notícia falsa é ligada à política, o alastramento é três vezes mais rápido (Estadão, 08/03/2018).
Cada pessoa conectada às mídias sociais, provavelmente, já se deparou com notícias falsas. Com certeza, na hora de decidir sobre compartilhar ou não o seu conteúdo, possivelmente, não fez uma avaliação criteriosa sobre sua veracidade. Segundo o mencionado estudo do MIT, quanto mais inusitada e surpreendente uma notícia, maior a probabilidade de ser difundida. Com outros contornos, ainda parece válida a teoria da bala mágica, segundo a qual predomina a passividade do receptor em relação à informação consumida.
Então, de um lado a internet e as mídias sociais contribuíram para democratizar a liberdade de expressão e dar a todos o direito de produzir conteúdos. Do outro, como criticou o filósofo Umberto Eco “deram o direito à fala a legiões de imbecis” (HuffPost Brasil, 26/01/2016). Ao tratar do tema, o professor de Direito Civil Sérgio Branco (2017, p.57) esclarece “A democratização dos meios de comunicação não pode ser condenada. Ao contrário, é na possibilidade de ouvir a todos que a internet encontra uma de suas maiores virtudes”. No entanto, alerta para o risco do uso inconsequente dos meios, a superficialidade e polarização dos debates nas redes e a falta de reflexão sobre o conteúdo recebido e compartilhado.
Entre os problemas da proliferação das fake news estão a corrosão da confiança nas relações sociais e o risco a própria liberdade de expressão. Será necessário cada vez mais questionar e verificar a veracidade dos conteúdos. Sob o pretexto de garantir a credibilidade e a qualidade das informações, deve-se estar atento a possíveis iniciativas de censura prévia que poderão surgir. Há de se destacar ainda que, como mencionou Sérgio Branco, as fake news podem resultar em eventos trágicos, a exemplo da dona de casa do Guarujá espancada até a morte após boatos espalhados pelo facebook de que ela sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de bruxaria.
Diante deste cenário, conclui-se sobre a necessidade de investir na educação para a leitura e uso crítico dos meios e dos seus conteúdos. Duvidar e pesquisar são palavras de ordem quando se trata de consumir informações nas mídias sociais e internet. Antes de compartilhar, é preciso checar e, esse tipo de trabalho, precisa ser feito por todos. Não se trata de desconfiar de tudo e todos e sim de se ter uma atitude mais cautelosa e responsável quanto a principal matéria-prima que utilizamos para nos comunicar e construir nossas relações sociais, ou seja, a informação.